Fabricio Caruso
Fabricio Caruso é Estrategista Político renomado, jornalista, formado em Gestão Pública, MBA Relações Institucionais (Ibmec/DF) com ênfase de Gestão e Estratégia Política feita em Washington DC, EUA.
Diga-me com quem tu andas...
Quem cerca quem te representa?
O poder descentralizado no executivo leva a termos diversos personagens de composição política que não te representam. Como exemplo, temos prefeitura de capital no Brasil que tem mais de 12 mil cargos comissionados de livre provimento para nomear pessoas diversas na administração direta, fora empresas públicas e conselhos. Postos de chefias de alto escalão giram em torno de 15% desses cargos. E fica aqui um ponto de atenção: quem vota no(a) prefeito(a) nem sonha as intenções de toda essa gente.
Partidos políticos que estiveram juntos na eleição, setores da sociedade, desde o terceiro setor, setor produtivo e de serviços. Todos estarão dentro, defendendo seus interesses. Em menor escala, num mandato parlamentar se compõem equipes com apoiadores com diversos pensamentos distintos.
Dentro de mandatos e governos há personagens que são os influenciadores dos tomadores de decisão. Ou seja, o indivíduo que dá o conselho do que se deve fazer. E quem é esse personagem? Ele é pautado pelo que levou as pessoas votarem nos seus representantes?
Essa relação se mistura mais ainda no jogo político pela governabilidade, transformando-se em distribuição de espaços no executivo para que o legislativo aprove projetos de interesse e seus planos de meta pactuados. As políticas públicas deslancham ou se comprometem, quando quem te representa está ouvindo a sua voz ou a voz de quem representa ele nas agendas de diversos temas.
A militância defensora de certos atores políticos e de pautas específicas fica vendida, ao passo que seus líderes escolhem seus aliados ou quem somente os apoia. Apoio não se recusa. Não recusa? Será?
Vamos a alguns exemplos: Paulo Maluf e Geraldo Alckmin, adversários históricos do PT, e, recentemente, Marta fizeram parte de movimentos políticos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nos últimos anos com políticos que eram críticos ao PT.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com o ex-tucano Geraldo Alckmin (PSB), que se elegeu na chapa de Lula como vice-presidente, na última eleição de 2022, e quando o ex-governador paulista Paulo Maluf (PP) em 2012 anunciou apoio ao ex-prefeito de São Paulo e atual Ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT), então candidato à Prefeitura. O episódio mais recente ocorreu quando a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, voltou ao PT como pré-candidata a vice-prefeita na chapa com Guilherme Boulos (PSOL). A motivação desses casos foi distinta. Maluf seria por apoio do seu partido, Alckmin por uma frente ampla de defesa a democracia, e Marta por atração de eleitorado específico que ela acessa em seu recall político, legado de quando fora prefeita, apesar de já ter saído do posto há 20 anos.
A eleição presidencial de 1989 foi a primeira disputa entre Lula e Maluf. Um concorria pelo PT, expoente da esquerda. O outro pelo PDS, antigo Arena, partido dos militares. A segunda disputa foi em 1994, quando Maluf, então Prefeito de São Paulo, disse que “quem votar em Lula vai cometer suicídio administrativo”. Lula devolveu afirmando que Maluf era “o símbolo da pouca vergonha nacional”.
Lula e Alckmin
Durante seus quatro mandatos como governador de São Paulo, Geraldo Alckmin foi um grande antagonista do presidente e do PT. Os dois disputaram à Presidência da República em 2006, indo até a disputa pelo segundo turno. Em debates na época, o ex-governador de São Paulo manteve os ataques ao então presidente da República e a seu partido. “A mentira política, que não tem fim, está entranhada no PT e no Lula”. “O aparelhamento do Estado pelo partido, pelo PT, pelos companheiros, leva à ineficiência e leva à corrupção”, disse Alckmin no debate da Band.
Lula chamou de “bravatas” as acusações do então tucano: “O governador, nas suas bravatas, fala de uma moralidade que parece que está numa sacristia”. Mais recentemente, em 2017, Alckmin disse que Lula, “depois de ter quebrado o Brasil”, queria “voltar ao poder”, “voltar à cena do crime”. Na época em que Lula ficou detido em Curitiba, o ex-tucano chamava Lula de “preso condenado por corrupção”.
Marta e o Partido dos Trabalhadores
Em 2015 Marta deixou o Partido dos Trabalhadores (PT) depois de 33 anos, dizendo que “não tem como conviver com os escândalos de corrupção” e votando a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Ela também disse que “o PT traiu os brasileiros” e que “se sentiu traída” pela sigla. Na época, o PT era um dos principais alvos e estava no auge das investigações da Operação Lava Jato. Em 2016, Marta se tornou adversária do PT e disputou a eleição municipal na capital paulista pelo então PMDB (atual MDB), e disse que Fernando Haddad (PT) era o “pior prefeito que São Paulo já teve”.