Gestão escolar: na sociedade tudo é política

Homem pardo de barba e terno, sorrindo.

José Couto Júnior

Doutorando em Educação pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Desde 2009 é professor de educação básica e Gestor Escolar do Ginásio Educacional Tecnológico Mário Piragibe, da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Em 2018 foi eleito Educador do Ano no Prêmio Educador Nota 10 da Fundação Vitor Civita e recebeu uma das maiores honrarias cedidas pelo Governo Federal, a Medalha de Honra ao Mérito Educativo do MEC, que conferiu o título de Cavaleiro do MEC.

Gestão escolar, o lugar do entendimento de que na sociedade tudo é política.

Gerir uma escola demanda uma série de habilidades, entre elas a habilidade política. Compreender que o espaço escolar tem características que exigem diálogo e construção coletiva cotidiana é o caminho para uma gestão escolar de sucesso. 

Assim, de forma simples e restrita, a ideia de gerir passaria pela questão da administração, ou manejo, seja este de bens, de pessoas, de cargos, de processos, etc.

É claro que não tenho a pretensão de esgotar o sentido do que seja gerir em uma coluna. Muito menos, acredito que isto seja possível apenas baseando-se na definição de um dicionário. No entanto, gostaria de delimitar uma premissa importante para essa reflexão: existe gestão, e existe gestão escolar. 

Faço tal inferência pois quando qualificamos, ou adjetivamos uma gestão como sendo “gestão escolar”, uma série de elementos específicos ao cotidiano de um diretor de uma escola se avultam. Uma escola é sempre viva, já que é um espaço formativo por excelência. 

Com pessoas (alunos, professores, funcionários, responsáveis e gestores) formando e sendo formadas concomitantemente, dificilmente encontraremos demandas que não sejam complexas. Gerir avaliações, resultados, processos e especialmente pessoas nestes contextos não é nada simples. 

Por isso, o ato de buscar paralelos entre gestões escolares e qualquer outro tipo de gestão (empresarial ou coorporativa), costuma resultar em interpretações, leituras e avaliações tão esdrúxulas, que, não raro, prestem mais desserviços do que propriamente tragam boas reflexões sobre como se dirige uma escola.  

Um exemplo disso, antes de prosseguirmos. É comum que em novos governos jornalistas ou analistas, clamem por “gestores técnicos para assumirem cargos estratégicos”. Tal afirmação pode ter um sentido amplo, mas sempre traz como premissa o temor da influência política nas decisões do gestor.

Essa ideia, no entanto, não se aplica quando tratamos de gestão escolar. A esfera política está sempre presente no cotidiano de um diretor, nas relações, nas trocas, nos combinados, nas concessões, nas cobranças e nas fiscalizações que ocorrem pelo/sobre/sob o diretor em relação à sua Coordenadoria, aos seus professores e funcionários, e também junto aos responsáveis e aos alunos da escola. 

O filósofo grego, Platão, afirmava que “não há nada de errado com aqueles que não gostam de política; simplesmente serão governados por aqueles que gostam”. Ouso, completar a sentença com “serão governados por aqueles que gostam e não conseguirão ser gestores escolares”. 

Gestores x Gestores escolares

Há diversos estudos que buscam definir tipos de gestão, compreendendo quais seus pontos positivos e negativos. Destas análises costumam-se definir cinco modelos principais:

  • a “gestão vertical/autoritária”
  • a “gestão horizontal/democrática”
  • a “gestão meritocrática”,
  • a “gestão por resultados” e
  • a “gestão por processos”. 

Tenho ciência que tais tipos não são estanques e de certa forma variam em uma corporação, uma empresa. No entanto, a fluidez com que algumas delas se alternam em uma escola diante das necessidades cotidianas de adaptação, ou mesmo a inviabilidade que tende a ser posta ao médio ou longo prazo a modelos como o da Gestão vertical, evidenciam que gerir uma escola é diferente de gerir qualquer outro ambiente. 

Em geral, gestões horizontais/democráticas estão (quase) sempre por trás de direções de sucesso e/ou longevas. Porém, tão importante quanto o modelo adotado está no fato de que qualquer diretor escolar necessita desenvolver uma compreensão profunda acerca das demandas e das fragilidades de sua escola, observando-as pelos prismas dos diversos segmentos que compõem a unidade.

Diretor escolar, um cargo eminentemente político.

Sou gestor escolar há pouco mais de cinco anos. Desde novembro de 2023 dirijo o Ginásio Educacional Tecnológico Mário Piragibe, em Anchieta, Rio de Janeiro. Nessa meia década pude consolidar o entendimento (que já tinha como professor de história) de que tudo é política em nosso cotidiano. 

Uma gestão democrática, aliás, será primordialmente uma gestão política.

Otto Von Bismarck afirmava que “a política é a arte do possível”. Gerir uma escola, com suas demandas administrativas e pedagógicas, ao mesmo tempo em que se exige equalizar insatisfações, gratidão, vaidades, admiração, reivindicações, disputas, não deixa de ser um constante movimento de mobilizar o “possível”. 

Assusta a demonização feita de tempos em tempos à política. Primeiramente, porque gerir uma escola significa ocupar um cargo eminentemente político. Em segundo lugar, porque mesmo a política partidária (alvo principal dos ataques de quem odeia política), sempre irá dialogar, em algum nível, com a política cotidiana das escolas.

Quando compreendemos que a definição do currículo em nossas escolas é política; a escolha pelo investimento de verbas de uma forma e não de outra é politica; a elaboração de planos anuais e PPPs é política; e mesmo definições simples de organização cotidianas quando feitas através de escutas ativas dos gestores são realizadas por meio da política, passamos a dialogar na mesma página. Àquela em que as melhores propostas se impõem, e por si só definem os melhores caminhos aos gestores escolares.  

Rolar para cima