No Rio, juntos e misturados: Mobilização e Coletividade

Antonia Leite Barbosa

Por Antonia Leite Barbosa

Antonia Leite Barbosa é carioca, mãe de dois meninos, uma entusiasta de nossa cidade, apaixonada pelo Rio de Janeiro. Entre diversos projetos criados estão os guias Agenda Carioca e Agendinha Carioca, com as melhores dicas de lugares e programas do Rio e o coletivo feminino Matildes. Primeira suplente a vereadora, foi também subsecretária de promoção de eventos da cidade.

No Rio, juntos e misturados

Quando um aluno perguntou à antropóloga Margaret Mead qual era, na opinião dela, o primeiro sinal de civilização em uma cultura, ela deu uma resposta surpreendente. Enquanto todos esperavam que ela citasse alguma traquitana como ossos transformados em armas, panelas de barro ou pedras de amolar, Mead apenas disse que o grande indício foi a descoberta de um esqueleto de 15 mil anos com o fêmur quebrado, mas cicatrizado.

Poderia ter soado enigmático para a plateia de jovens de Yale, mas a estudiosa explicou de forma muito simples. Ela observou que alguém, com ferimento tão grave, só sobreviveria, num passado distante, se outro alguém lhe tivesse dado a mão, comida e água: “Ajudar alguém durante a dificuldade é onde a civilização começa”.

Poderíamos atualizar para o “ninguém solta a mão de ninguém” dos dias de hoje, com perdão de todas as ressalvas que possam existir entre uma coisa e outra. Mas, de certa forma, falamos do mesmo: da potência dos atos coletivos e da solidariedade. É nisso que acredito. 

É o que venho aprendendo na prática e na banalidade dos gestos cotidianos. Esta semana, por exemplo, me senti recompensada quando 14 viaturas inoperantes da PM, que atrapalhavam pedestres e o trânsito no entorno do 19º BPM (Copacabana), foram recolhidas após ter publicado uma reclamação nas minhas redes sociais, fruto da escuta de moradores do bairro. Pensei: “tem jeito”.

Na semana passada, minha alegria foi testemunhar um casal de idosos na Gávea recuperar o prazer de ficar em casa — e em silêncio — após terem sido desligados os motores de ônibus de turismo que há anos ficavam ininterruptamente ligados perto do Planetário da Gávea. Desta vez, fui eu que contei com a escuta da própria direção do Planetário que se comprometeu a pôr fim ao barulho torturante, com o apoio da Guarda Municipal.

Antes, eu já havia comemorado a segurança trazida por um sinal de trânsito reivindicado por pedestres na Fonte da Saudade. Apenas fui lá para chamar atenção para os riscos e, dias depois, chegou a resposta em forma de semáforo.

Também me senti de alma lavada quando foi instalado um quebra-molas no alto da Rua Lopes Quintas, onde uma fotógrafa foi atropelada por uma moto e passou 10 meses de cama sem poder trabalhar.

Essas são apenas pequenas vitórias que vêm da mobilização. Como pré-candidata a vereadora do Rio, quero reforçar valores de cidadania que foram ofuscados nos últimos anos sob o sentimento que se disseminou entre cariocas de que estamos à mercê do governo ou da falta dele e de que “não adianta” reclamar.

Adianta reclamar, sim, quando, ao mesmo tempo, ativamos a vontade de todos que, de uma forma ou outra, podem ajudar a solucionar um problema, seja ele grande ou pequeno. Com a repetição, o que parece insignificante vai, dia a dia, nos roubando qualidade de vida e nos desiludindo como cidadãos.

Quando trazemos o conceito de Mead para a atualidade, podemos dizer que o trabalho em conjunto, com objetivos comuns, é o diferencial civilizatório. A atitude da população é de extrema importância para a construção de um ambiente urbano mais sustentável e agradável. 

A conscientização, a participação ativa, a valorização dos voluntários e a abertura ao diálogo estão na ordem do dia.   

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