O Rio e a Paradiplomacia

homem branco de barba, e braços cruzados. foto em preto e branco.

Por Antônio Mariano

Doutor em Política pela FGV/CPDOC, Mestre em Administração Pública pela FGV/EBAPE e Coordenador Especial de Relações Internacionais e Cooperação da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Janeiro.

O Rio e a Paradiplomacia

A paradiplomacia, termo derivado do grego “para” (além de) e “diplomacia”, refere-se às atividades internacionais conduzidas por governos subnacionais, como estados e municípios, independentemente da política externa oficial de um país.

Essa prática tem se tornado cada vez mais comum no contexto da globalização, onde a interconectividade e a interdependência entre as regiões transcendem as fronteiras nacionais, permitindo que cidades e estados busquem cooperação e parcerias internacionais para promover o desenvolvimento local.

A paradiplomacia pode incluir uma vasta gama de atividades, como:

  • acordos de cooperação econômica;
  • intercâmbios culturais;
  • parcerias educacionais;
  • colaborações científicas e tecnológicas;
  • bem como iniciativas ambientais.

As motivações para essas ações são diversas e geralmente estão relacionadas à busca por desenvolvimento econômico, inovação, sustentabilidade e fortalecimento da identidade local no cenário global.

No Brasil, a Constituição de 1988 conferiu maior autonomia aos estados e municípios, criando um ambiente propício para a prática da paradiplomacia.

Desde então, várias cidades brasileiras têm buscado fortalecer seus laços internacionais para atrair investimentos, promover o turismo e participar de redes de cooperação global.

O Rio de Janeiro, com sua importância histórica, econômica e cultural, é um exemplo notável de cidade que utiliza a paradiplomacia para se projetar no cenário internacional. A cidade, famosa por suas paisagens deslumbrantes e eventos de renome mundial, como o Carnaval e o Réveillon, tem explorado diversas frentes para ampliar sua presença global.

O Rio de Janeiro já sediou importantes eventos internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), os Jogos Pan-Americanos de 2007 e os Jogos Olímpicos de 2016.

Esses eventos não só colocaram a cidade sob os holofotes internacionais, mas também estimularam investimentos em infraestrutura e fortaleceram as relações com diversas cidades ao redor do mundo.

Além dos grandes eventos, o Rio de Janeiro tem firmado acordos de cooperação com várias cidades e regiões internacionais. Um exemplo é o modelo de acordo de cidades-irmãs, que promove a troca de experiências e boas práticas em áreas como transporte, urbanismo, cultura e tecnologia. Entre as cidades-irmãs do Rio estão cidades como Nova Iorque (EUA), Lisboa (Portugal) e Pequim (China).

A agenda ambiental é uma prioridade na paradiplomacia carioca.

O Rio de Janeiro participa de diversas redes e iniciativas internacionais voltadas para a sustentabilidade urbana, como a rede C40 Cities Climate Leadership Group, que reúne grandes cidades comprometidas com ações climáticas ambiciosas.

A participação do Rio nesse tipo de rede permite o compartilhamento de conhecimento e a implementação de projetos inovadores voltados para a mitigação das mudanças climáticas e a adaptação urbana.

O turismo é outro eixo central da paradiplomacia do Rio de Janeiro.

A cidade é um dos principais destinos turísticos da América Latina e utiliza suas conexões internacionais para promover o turismo cultural, ecológico e de negócios. Parcerias com agências de turismo e companhias aéreas internacionais têm sido estratégicas para aumentar o fluxo de turistas e a visibilidade da cidade no exterior.

A cultura carioca, com sua rica diversidade e expressividade, também é um elemento fundamental da paradiplomacia. Através de festivais, exposições e intercâmbios culturais, o Rio de Janeiro tem promovido sua música, dança, arte e gastronomia, reforçando sua imagem como uma cidade vibrante e multicultural.

Embora a paradiplomacia ofereça inúmeras oportunidades, ela também apresenta desafios significativos.

A coordenação entre os diferentes níveis de governo, a necessidade de capacitação técnica e a busca por recursos financeiros são algumas das dificuldades enfrentadas pelas cidades na implementação de suas estratégias internacionais.

No entanto, a paradiplomacia do Rio de Janeiro mostra que, com planejamento estratégico e parcerias eficazes, é possível superar esses desafios e alcançar resultados positivos. A cidade continua a explorar novas formas de cooperação internacional, buscando sempre promover o bem-estar de seus habitantes e sua projeção global.

Atualmente, o Rio detém a marca de Capital do G20, por receber a Cúpula de Líderes em novembro deste ano, além de inúmeras outras reuniões paralelas e de alto nível do importante fórum de discussões. Tudo isso aumenta a importância da paradiplomacia carioca e a relevância da cidade a nível mundial, mantendo a tradição de grandes e importantes eventos.

A paradiplomacia emerge como uma ferramenta poderosa para cidades que desejam se inserir no cenário global de maneira proativa e estratégica.

No caso do Rio de Janeiro, a combinação de eventos internacionais, acordos de cooperação, iniciativas sustentáveis e promoção cultural destaca como a cidade tem utilizado a paradiplomacia para impulsionar seu desenvolvimento e reforçar sua identidade global. 

Assim, o Rio de Janeiro não só se beneficia das oportunidades trazidas pela globalização, mas também contribui para a construção de um mundo mais interconectado e colaborativo.

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