As consequências de enfrentar o sistema na política brasileira.

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Por Cris Monteiro

A vereadora é pós-graduada em Finanças pelo IBMEC e possui ampla experiência em grandes bancos de investimentos americanos como JPMorgan, Bank of America e Goldman Sachs, tendo ocupado cargos de diretora em diversas áreas. Ela é atualmente vereadora em São Paulo pelo NOVO e tem como principais bandeiras a educação e inovação na administração pública. A vereadora já protocolou 19 projetos de lei com temas como a qualidade da gestão das escolas públicas, combate à violência, maior transparência nas informações à população e o uso de inteligência artificial e blockchain, sendo que 8 foram aprovados e 4 já são leis em São Paulo. Ela também destinou mais de 9 milhões de reais em emendas para 40 instituições e atendeu mais de 520 solicitações de melhorias e reparos nos aparelhos públicos, ruas e calçadas da cidade. Seu projeto de lei de combate ao abandono e evasão escolar já foi protocolado em mais de 90 cidades e pode beneficiar até 5 milhões de estudantes no Brasil.

Muito além das urnas: as consequências de enfrentar o sistema na política brasileira.

A decisão de ingressar na política nem sempre é fácil e, quando coloquei meu nome à disposição nas urnas, não faltaram questionamentos sobre a certeza da minha escolha.

A política brasileira, conhecida por seu ambiente hostil, repleto de escândalos de corrupção e por representantes que se aproveitam do sistema público, pode desencorajar muitos. 

No entanto, minha experiência anterior, construída em uma longa carreira no setor privado, onde ocupei posições de liderança em grandes bancos internacionais, me deu habilidades em gestão e compliance que considero muito úteis para a administração pública.

Senti que havia chegado o momento de devolver à sociedade o que a vida generosamente me ofereceu, afinal, a educação havia me aberto portas que pareciam destinadas a permanecer fechadas ao longo vida. Munido de um coração determinado e com a cabeça voltada para resultados, pensei: por que não?

Agora, em meu quarto e último ano de mandato, posso afirmar que os desafios foram enormes, mas isso não é uma reclamação nem motivo de desapontamento. Pelo contrário, entrei nesse campo de batalha disposta a lutar a boa luta.

Mas, é impossível ignorar que a política brasileira, com suas surpresas diárias, exige uma resiliência e adaptação únicas. 

Quando as urnas foram abertas e minha eleição confirmada, decidi colocar em prática os planos de ação que havia preparado para atuar na maior câmara municipal da América Latina. 

Protocolei o Projeto de Lei das Charter Schools, que autoriza organizações sociais a gerenciar escolas públicas municipais. Esta iniciativa, já implementada com sucesso em hospitais públicos e creches em São Paulo, reflete práticas comuns em países líderes nos rankings mundiais de educação. 

O projeto foi cuidadosamente elaborado com base em evidências sólidas e defendido por mim em todas as oportunidades, sempre apoiado em dados concretos. O objetivo sempre foi enfrentar a triste realidade educacional de uma das cidades mais ricas do país, uma situação que se prolonga por décadas e cuja mudança parece distante, especialmente quando os interesses dos alunos são colocados em segundo plano.

A educação no estado de São Paulo sofre com um grande aparelhamento.

Os sindicatos levantam bandeiras e fazem reivindicações que nunca priorizam o aprendizado dos alunos. Não estou afirmando que suas demandas sejam ilegítimas, mas sim que falta quem verdadeiramente represente os alunos.

Não existe um sindicato para os estudantes que, por exemplo, aspiram ingressar no ensino superior, em cursos técnicos de qualidade, ou no mercado de trabalho.

A dura realidade com a qual luto diariamente é que apenas 36% dos alunos que completam o ensino médio na rede pública conseguem ingressar em uma faculdade, enquanto na rede privada, esse índice é mais que o dobro, alcançando 79,2%.

Defender meu projeto de lei com a evidência de que uma boa gestão escolar impacta diretamente no aprendizado dos alunos têm sido um grande desafio. Desde o primeiro dia enfrento uma oposição que considero desleal e inescrupulosa. Ao passo que o PL ganhou visibilidade, também atraiu ataques pessoais significativos.

Para se ter uma ideia, meu imposto de renda e informações pessoais foram expostos nas redes sociais de sindicatos, e até mesmo uma história em quadrinhos com minha caricatura foi distribuída em portas de escolas, distorcendo minhas intenções e alegando falsamente que os pais de alunos teriam que passar a pagar mensalidade nas escolas públicas caso meu projeto fosse aprovado. Sem contar os insultos de baixíssimo calão deferidos a mim tanto pessoalmente quanto virtualmente durante audiências públicas.

Entrar na política já era um desafio antecipado, especialmente como mulher.

Minha experiência anterior no setor privado forjou uma resiliência que tem sido essencial. Apesar das situações desagradáveis que enfrento, e que não desejo a ninguém, permaneço firme e não me deixo abalar. Respondo aos insultos e críticas com dados e evidências, mantendo o foco no meu objetivo de melhorar a educação.

Espero que minha trajetória inspire outras pessoas que desejam fazer a diferença através da política a perceber que, apesar das dificuldades, vale a pena perseguir mudanças positivas e duradouras.

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