Denis Mizne: a educação e o desarmamentismo como pauta de vida
A QTR teve o prazer de receber Denis Mizne, advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP), fundador do Instituto Sou da Paz e CEO da Fundação Lemann. No primeiro, se dedicou à promoção de políticas públicas de segurança, enquanto na Fundação Lemann trabalha com o desenvolvimento de lideranças comprometidas pela transformação do Brasil e com o fortalecimento da educação pública, a partir de uma visão de redução das desigualdades raciais.
A partir de uma visão coletiva e colaborativa, Mizne compartilhou com o QTRcast e seus ouvintes um pouco da sua jornada na luta pela redução da violência e na propagação de uma educação de qualidade para estudantes de todo o Brasil.
Início da jornada de Denis Mizne
Denis Mizne, descendente de refugiados da Segunda Guerra Mundial, nasceu em terras paulistanas e diz que sempre teve um lado de “impacto” desde muito jovem. Começando sua vida de militância no movimento estudantil durante o ensino médio e, logo em seguida, na sua formação no curso de direito na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde assumiu a presidência do Centro Acadêmico.
Em conjunto com outros estudantes, lançou, no final da década de 1990, a campanha “Sou da Paz, dos estudantes pelo desarmamento”, o que mais tarde se tornou o Instituto Sou da Paz, completando 25 anos de história esse ano. Em 2011, a convite do fundador da Fundação Lemann, foi chamado a trabalhar com educação e desenvolvimento de lideranças.
Comecei minha vida no movimento estudantil (…), acabei montando um grupo político com outras pessoas e assumindo a presidência do Centro Acadêmico (…) lá meio que acabou sendo o caminho dessa vida que acabei levando, porque lançamos, no fim da década de 90, a campanha ‘Sou da Paz, dos estudantes pelo desarmamento’. (…) na época estávamos vivendo uma crise muito séria se segurança pública aqui em São Paulo (…) a imensa maioria das pessoas que estavam matando e morrendo eram jovens de 15 a 24 anos, que era exatamente a nossa faixa etária, e 90% desses jovens estavam se matando com uma arma.
– Afirma Denis Mizne.
A segurança pública e o desarmamento como pauta do Instituto Sou da Paz
O convidado fala da preocupação que compartilha com a organização que ajudou a fundar, a segurança pública como uma pauta importante e urgente. Deixando claro duas opiniões encontradas em muitos lugares, que simplificam o debate, que acham apoiadores em dois eixos da política: a direita “defendendo (…) que ‘bandido bom, é bandido morto’. (…) o crime existe porque o Estado não está intimidando o suficiente. (…) se a polícia for mais violenta, se as penas forem mais duras, o criminoso vai ter medo ‘porque é uma escolha racional’ e vai fazer escolha de não cometer o crime”, destaca Mizne.
Enquanto a direita tem esse posicionamento, o entrevistado afirma que a esquerda tem “a visão que nega a segurança pública como um problema. A violência não é um problema, o problema é a miséria, a fome, a desigualdade, a falta de oportunidade. Então, ela é apenas consequência de um monte de mazelas sociais, que se for você for branco e rico é simples de dizer.”
Se você é pobre e vive o cotidiano da violência, se você é negro e tem medo de ser assassinado, seja pela policia, seja pelo crime. Ou se você é mãe e tem medo que seu filho entre no tráfico ou na milícia. (…) sempre advogo o Sou da Paz pela visão da segurança pública como um problema como a saúde, como a educação, como o clima, como qualquer outra coisa que merece ser estudado, trabalhado, com uma abordagem racional e que trabalhe isso.
– Afirma Mizne.
O ativista ainda fala da importância do desarmamento durante o processo de combate à violência, “o desarmamento ajuda a evitar a gravidade do crime, o controle das armas, combate a questão de drogas de forma inteligente (…) a construção de outros espaços de sociabilidade, o estímulo a lideranças que não sejam lideranças ligadas ao crime, para que exista a promoção da cultura de paz”.
A educação como um agente de mudança
Denis Mizne chama a atenção para a importância da educação no processo de desenvolvimento de qualquer indivíduo e para o acesso à educação em todo o território. Em um país de dimensões continentais, esse acesso ainda é precarizado, em que estudantes acabam não absorvendo o ensino da melhor forma devido às desigualdades encontradas na sociedade. “A gente criou essa visão porque o Brasil demorou muito para escolarizar suas crianças, para universalizar a escolarização”, ressalta Mizne.
Terminar a escola tendo aprendido o que ela precisa para crescer. Então, eu acredito, aqui na Fundação Lemann, a gente tem essa crença muito forte que resolver o plano de educação faria muita diferença. Tem outras pautas, estamos vivendo a crise do Rio Grande do Sul, que não é só do Rio Grande do Sul. Acho que a questão da mudança climática parece ser um tema cada dia mais premente. A gente precisa pensar nisso, (…) mas para pensar nisso, a gente precisa ter gente boa no Congresso para isso, trabalhando na academia, estudando, financiando, criando soluções inovadoras. Então a gente tem uma outra crença, que é, se a gente pudesse ter uma parte das nossas pessoas mais talentosas e lembrar que o talento está em todos os lugares da sociedade.
– Afirma Denis Mizne.
A primeira coisa que, assim, a política não liga se você não gosta ou não dela. Ela vai impactar sua vida do mesmo jeito. Então, a pessoa às vezes fala assim ‘não vou me envolver porque eu não gosto’ ou ‘eu não quero pensar nesses problemas’, você não querer pensar no problema de mudança climática, ou de segurança pública, ou da baixa qualidade da educação, ou das pandemias, também não vai evitar que esses problemas te atinjam. (…) Você quer estar passeando ou você quer participar das coisas que vão impactar as suas decisões? Não existe um mundo individual puramente individual. A gente vai ser impactado pelo coletivo.