Entrevista com Thayssa Menezes e Leo Bruno – Política, Carnaval e Cultura

Entrevista com Thayssa Menezes e Leo Bruno – Política, Carnaval e Cultura

Perspectivas sobre os desafios envolvidos na criação de políticas públicas que apoiem a existência ecossistema do Carnaval e das Escolas de Samba nos 365 dias do ano.

Thayssa fala sobre a essência das escolas de samba.
Leo fala sobre como as quadras de escolas de samba são espaços para festividades, para eventos educativos e para debates.

Nesta entrevista exclusiva, exploramos a trajetória e as perspectivas de Thayssa e Leo que fazem parte da construção do carnaval no Rio de Janeiro há mais de 15 anos.

Ao longo da conversa, Thayssa compartilha sua visão sobre os desafios fomentar os fazeres do Carnaval e expandir o olhar para além da Sapucaí. Ela e Leonardo enfatizam a importância das políticas públicas que tornam a festa possível mas que também têm sido menos abrangentes do que do desejado. 

Será que os setores da política e da gestão enxergam o potencial transformador da Escolas de Samba nas comunidades para além dos desfiles? Será que quem faz a festa acontecer recebe os incentivos necessários? 

A seguir, destacamos alguns momentos que dão o tom da participação dessas feras no 2º #QTRcast:

Conhecendo a Thayssa

Ygor Lioi: O episódio de hoje fala sobre políticas públicas de cultura e Carnaval. Já vou começar com perguntando para vocês o seguinte: podem falar um pouco da trajetória? Quem quer começar?

Thayssa Menezes: Me chamo Thayssa Menezes, mais conhecida como thayssaambando, nas redes. Sou uma pessoa que teve a honra de nascer uma família de pessoas que amam o Carnaval, né? (…) Então eu fui crescendo, com esse amor sendo nutrido no meu coração por essa manifestação cultural e dentro da Cubango, né? Que é essa escola tão especial.

Thayssa Menezes: Eu fui educada pela Cubango. Ela foi responsável pela construção, não só enquanto sambista, enquanto mulher negra, mas também enquanto é trabalhadora, né? Não só do Carnaval também, mas da educação. E meu projeto de vida é fazer com que é a educação e o Carnaval consigam pautar as questões relacionadas à negritude e as relações Étnico-Raciais, a partir, obviamente, de políticas públicas, porque isso é necessário.

Conhecendo o Leonardo

Ygor Lioi: A gente já percebeu que a Thayssa tem um amor absurdo pela Cubango. E o Leonardo Bruno? Quando eu o conheci, ele também tinha um amor absurdo para uma escola de samba. Não sei se ele ainda continua.

Leo Bruno: Eu tenho amor por todas as escolas de samba. É é uma paixão muito antiga. Meu pai trabalhou a vida toda em Madureira, então a gente é dali daquela região, então, para mim, a cultura suburbana sempre fez muito parte da minha vida. Então, não só a escola de samba, mas a culinária, a vida na rua, o futebol no asfalto, a religiosidade… E desde garotinho eu era apaixonado por escola de samba. (…) Depois, quando eu viro jornalista, eu trago essa paixão pro meu trabalho, falo, cara, dá pra fazer coisas aqui. E aí eu começo a escrever sobre o Carnaval, aí começo a escrever livros, começo a cobrir e fazer minha carreira também nessa nessa área, que é o melhor dos mundos, é você unir não é a paixão com a com o teu ofício, né?

Ygor Lioi: E já são quantos livros sobre o Carnaval?

Leo Bruno: No dia 15 de dezembro, é lançado o oitavo. Que é um livro sobre o Centenário da Portela, não é um livro só meu, é um livro coletivo. Eu escrevi um capítulo sobre o conto de Areia, que é o título da Portela de 84, que é um ano importantíssimo, porque é a inauguração do Sambódromo, né? Se tudo der certo, em 2024 vamos para o décimo.

Sobre a cadeia produtiva do Carnaval

Eu acredito que se o poder público tiver um compromisso nesse sentido, a gente vai ter avanços. Porque existe trabalho para essas pessoas, né? Existe demanda.

Foto de Thayssa Menezes

Ygor: E como é que vocês enxergam as políticas públicas para cadeia produtiva do Carnaval?

Thayssa: Olha, é engraçado que você me faça essa pergunta, né? Porque ontem eu estava na Cubango, no ateliê, que está confeccionando os protótipos. E a pessoa responsável estava falando justamente isso: da dificuldade de mão de obra. Principalmente costureiras, bons aderecistas… E ela estava falando comigo assim, poxa, a gente precisa que tenha umas escolinhas para formar essa galera… Então eu acredito que precisa existir Políticas públicas na construção e na formação desses profissionais.

Eu acho que a gente tem que começar a pensar é nessa preparação de profissionais e mais do que isso, no convívio diário que cada vez mais a gente está perdendo, não é porque o que que de melhor uma escola de samba pode oferecer para a cidade. É você ter um centro cultural em cada região da cidade, é você ter ali um lugar em que você vai ter, é encontros, você vai ter festividade, você vai ter feijoada, você vai ter debate, você vai ter uma feira literária, é você ter eventos que façam com que aquela comunidade conviva.

Foto de Leonardo Bruno

Leo: A meu ver, tem um grave erro de concepção, que é o fato de toda a subvenção, todo apoio governamental é para que as escolas promovam um evento durante o ano, que é o desfile de escola de samba na Sapucaí ou na Intendente Magalhães.
Eu acho que essa verba que vai para as escolas de samba deveria estar atrelada a uma contrapartida objetiva de preparação. Por exemplo, o gancho que a Thayssa deu preparação de mão de obra para o fazer Carnaval e aí ela se. Fazeres de Barracão. Mas eu citaria também os fazeres artísticos das escolas de samba, escolinhas de mestre sala e porta Bandeira, escolinhas de puxadores, escolinhas de bateria.

E não só a preparação dessas pessoas, mas atividade nas quadras das escolas de samba. Hoje você tem muitas quadras de escola de samba que ficam fechadas o ano inteiro. (…) 

O imenso potencial das Escolas de Samba

A essência de uma Escola de Samba são as pessoas que fazem ela, né? E todos esses saberes que são disseminados ao longo de todo um ano porque a escola de samba é uma grande engrenagem, né? É um solo fértil, tudo ali é possível, tudo ali, tudo o que se planta ali é possível de ser cultivado. – Thayssa

Thayssa:  O Leo falou sobre a questão das das escolinhas, né, como a gente vê, como as crianças aprendem ali dentro, né? Crianças que às vezes não conseguem aprender na escola formal, né, que têm uma dificuldade de escrever, mas chegam ali, riscam o chão, sambando com a maior destreza possível. Que às vezes têm uma dificuldade de fazer uma interpretação de textos, mas explicam o enredo daquele ano daquela comunidade com a maneira mais perfeita… Então, assim, a escola de samba é uma potência muito forte e o desfile é só uma partezinha de todo esse processo.

Leo: Eu acho que a gente tem que começar a pensar é nessa preparação de profissionais e mais do que isso, no convívio diário que cada vez mais a gente está perdendo, não é porque o que que de melhor uma escola de samba pode oferecer para a cidade. É você ter um centro cultural em cada região da cidade, é você ter ali um lugar em que você vai ter, é encontros, você vai ter festividade, você vai ter feijoada, você vai ter debate, você vai ter uma feira literária, é você ter eventos que façam com que aquela comunidade conviva. 

Eu estava agora na última quarta-feira, num ensaio de rua da Vila Isabel. Cara, aquilo transforma uma comunidade. Você tem aquilo toda quarta-feira. Estava todo mundo na rua ali, tomando sua cerveja, comendo seu churrasquinho, aí numa esquina tinha uma roda de samba, então os caras estavam cantando sambas antigos (…) Aí a menina de 10 anos vê uma moça de 25 tocando cavaquinho, fala, pô, eu posso tocar cavaquinho assim. Se aquela escola de samba não estivesse ali, você não teria esse fomento de um resultado que vai vir daqui a 15 anos, né? – Leonardo

Aqui deixamos apenas alguns trechos desse bate-papo incrível sobre Política, Carnaval e Cultura. No episódio foram abordados ainda temas como representatividade na LIESA, relações com a Secretaria de Cultura e a adesão a enredos patrocinados. Confira!

Quer ouvir a entrevista na íntegra? Disponível no Spotify.

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