Empoderamento e Transformação: A Trajetória de Joyce Trindade
Construção de políticas públicas, comunicação e ações da Secretaria da Mulher do Rio de Janeiro
A Quem te Representa? entrevistou Joyce Trindade, uma liderança pública que vem de Cosmos, Zona Oeste do Rio de Janeiro, trazendo consigo uma infância marcada pela resiliência e pela busca incessante pelo conhecimento. Criada por pais empreendedores, Simone e Rogério, Joyce carrega em si as influências da mulher de favela e do pai nordestino, elementos que moldaram sua visão de mundo e sua determinação.
Isso tudo começa muito desde menina. Eu fui uma criança criada em Cosmos, Zona Oeste do Rio de Janeiro, nascida em Padre Miguel, no Morro do São Bento, mas fui criada em Cosmos, na Zona Oeste. E, para quem não é da cidade do Rio, talvez não conheça tanto, mas eu sempre costumo trazer que Cosmos é a mais ou menos duas horas da praia de Copacabana e dos centros e pontos turísticos do Rio de Janeiro, para a galera poder se localizar e entender que é realmente distante, porém ainda a mesma cidade. Além disso, eu fui criada por um pai e uma mãe maravilhosos, Simone e Rogério, ambos empreendedores da vida, como eu gosto de falar. E isso é muito importante trazer, porque eu lido com muitas empreendedoras e eu sei o quanto elas têm medos e temores, mas quero trazer para elas que os frutos delas também dão sucesso. Eu sou fruto de uma mulher empreendedora, sou fruto também de uma mulher de favela, que é minha mãe, e meu pai, que é um homem nordestino, do Maranhão, e eu carrego essas duas veias muito fortes comigo – conta Joyce na entrevista.
Organizar, motivar pessoas e, por que não, sonhar alto
Desde sua juventude, Joyce ressalta que se mostrou uma líder nata, enraizada em sua fé e na missão de educar e inspirar os outros. Sua jornada na Igreja Batista a colocou em cargos de liderança, onde aprendeu a organizar e motivar pessoas.
Joyce Trindade: Fui criada num lar evangélico, fui criada dentro da Igreja Batista. Então, desde muito pequena, também tive cargos de liderança. Eu sempre gosto de trazer também a importância da Igreja na minha formação enquanto cidadã, porque desde que me conheço por gente, sempre tive a missão de educar outras pessoas. (…) Então, com 12 anos já pregava para 200, 300 pessoas com naturalidade. Então, isso para mim é importante, trazer esses elementos.
Então, eu sempre tive muito esse papel de organizar pessoas e coisas, porque na igreja, você tem muito essa tarefa de cuidar de alguma coisa ou de liderar algo. Com 12 anos, já pregava. Então, muitas pessoas me perguntam, como que você aprendeu a falar bem? Porque desde pequena, eu aprendia a falar. Não tinha outro caminho.
Joyce Trindade: E aí, correndo bem no tempo, para não me estender tanto, eu, quando criança, decidi que queria ser presidenta do Brasil. Eu verbalizava isso para os meus pais. Não, “eu quero ser presidenta do Brasil”. Mas eu sempre gosto muito de trazer que Dilma tinha acabado de se tornar presidenta do Brasil. Então, eu via aquela pessoa, uma mulher, sendo presidenta. E eu falei, caramba, então eu também quero ser presidenta, né? Pra mim era super normal achar aquilo. E eu tive a sorte do meu pai e da minha mãe serem pessoas que sempre me estimularam a acreditar no meu potencial também. Então isso trava muito crédito a eles, né? Eles nunca me podaram. Beleza, filha, você quer ser presidenta do Brasil? Então você vai ser. Vai estudar, você vai ser. Como se fosse normal e tranquilo, né? Mas pra eles sempre foram esse lugar de não podar os meus sonhos. E no ensino médio eu entro na Faetec, né? Um instituto… o ensino público, o que me trouxe muitos conhecimentos de mundo. A partir disso, eu decidi que queria entrar na UFRJ, na Federal do Rio de Janeiro.
Joyce Trindade conta sobre a graduação em Gestão Pública
Com o tempo, sua paixão por servir à comunidade a conduziu para a gestão pública, onde percebeu que poderia fazer a diferença movimentando a sociedade. Ao ingressar na graduação em Gestão Pública na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Joyce não apenas se dedicou aos estudos, mas também iniciou um projeto social inovador
Entender os instrumentos públicos é liberdade para a gente conseguir avançar e avançar com a nossa inteligência enquanto cria de comunidade, cria de subúrbio, cria da sociedade para assim a gente adentrar nesses espaços de poder e fazer as devidas mudanças também – afirma a gestora pública.
Joyce Trindade: E aí, com 19 anos, eu passo na UFRJ, na Federal do Rio de Janeiro. O que foi pra mim, enfim, uma grande conquista da família.(…)vou e entro na graduação, né? Filha de pobre, então, não tinha muito o que fazer. Sempre trabalhando, estudando ao mesmo tempo. Nisso, eu criei com alguns amigos meus um projeto social chamado Projeto Manivela, no qual a gente facilitava a linguagem. Qual era o nosso método? A gente pegar a linguagem da máquina pública e levar para dentro das periferias e subúrbios do Rio de Janeiro.
Joyce Trindade: Porque todo mundo do projeto era filho da periferia, e a gente queria que as pessoas soubessem o que é a máquina pública. o que é orçamento público, o que é gestão pública, como se faz um ofício, por exemplo, um ofício de pedido para um órgão público, uma coisa tão simples, mas que a grande massa da sociedade não sabe fazer.
A Secretaria e as Políticas Públicas para Mulheres
Joyce foi selecionada para ocupar o cargo de Secretária de Políticas e Promoção da Mulher do município do Rio de Janeiro em 2021. Dentre os projetos impactantes, que surgem a partir daí, está o Mapa da Mulher Carioca.
Joyce Trindade: O Mapa da Mulher Carioca é um instrumento muito importante para a gente, que justamente traz as diretrizes. Ser gestor público, ser político, significa que você precisa de informação. Informação para tomar decisão. E as decisões que a gente toma definem o rumo da sociedade. Define hoje, mas, consequentemente, o amanhã também. (…) E eu lembro que quando eu me tornei secretária municipal de políticas para as mulheres aqui na cidade do Rio de Janeiro, por ter uma cara muito jovem, e ser jovem mesmo, as pessoas tinham muitas dúvidas. “Será que essa garota sabe o que está falando? Será que ela realmente entende do tema?”
“Então, tem essa dica para quem é mulher, para quem é jovem, para quem é negro. Para quem tem a nossa estética, que não é a estética do poder – a estética do poder é do homem branco, então, o que ele fala já é dado como verdade – (…) a gente precisa estar sempre se gabaritando e se confirmando. Então, o mapa da mulher vem muito com essa resposta. Chegar numa reunião com outros secretários, com deputados, com vereadores, e apresentar para eles como que está o cenário.“
Joyce Trindade: Falei, cara, se eu chegar na reunião e não tiver muita concretude do que eu tô falando e não tiver informações, análises e tudo mais pra pedir orçamento, pra pedir parceria ou coisa do tipo, as pessoas não vão acreditar no que eu tô falando.
Além da preocupação com os dados e evidências, Joyce aponta a escuta atenta às necessidades da comunidade como um pilar fundamental em seu trabalho. Essa abordagem inclusiva resultou em mais de 50 políticas públicas implementadas durante seu mandato, abordando questões desde violência doméstica até apoio a órfãos de feminicídio.
Destacam-se iniciativas como o Cartão Mulher Carioca, que fornece auxílio financeiro e suporte às mulheres em situação de violência, e o Cartão Passagem, que garante o acesso das mulheres aos serviços essenciais da cidade.
Um ponto importante, por exemplo, é o Cartão Mulher Carioca. O que é cartão é esse? É um auxílio financeiro para as mulheres em situação de violência doméstica, familiar e outras violências de gênero, onde ela recebe um auxílio financeiro durante um tempo e é acompanhada durante esse tempo. Ela garante a autonomia dela, financeira e de trabalho e assim por diante, porém ela tem um recurso imediato para conseguir dar um basta na violência. (…) Se você não tem como comprar um arroz, um feijão para o seu filho, você acha que realmente essa mulher vai conseguir dar um basta? É claro que não. Então a gente precisa entender qual é a urgência e como a gente traz autonomia para as mulheres. Então a gente criou esse auxílio financeiro emergencial que leva um acompanhamento para essa mulher em situação de violência.
Joyce Trindade: Outro exemplo, é o cartão de passagem. Eu sempre digo muito, Vivi, Deborah, que o primeiro direito de um cidadão é ele chegar no lugar. Não adianta eu criar o castelo da mulher carioca, não adianta eu criar o parque de diversão da mulher carioca, se eu não tenho como fazer a mulher chegar no lugar. Então a gente cria política pública atrelada ao direito à cidade, o direito do cidadão ir e vir, certo? A gente criou um auxílio-passagem para que a mulher consiga ter o direito ao acompanhamento, na secretaria. Então, se ela precisar de psicóloga, ela vai ter o dinheiro de passagem pra poder ir pra casa e ir pro equipamento que atende. Se ela precisa ir no juizado, se ela precisa ir na delegacia, se ela precisa ir pra algum lugar, ela vai ter um recurso que conta com a ida, com a vinda e com o retorno dela pro equipamento.
Além das políticas públicas, Joyce destaca histórias marcantes que ilustram o impacto positivo dessas iniciativas na vida das mulheres. Desde casos de superação de violência doméstica até a transformação profissional e pessoal de mulheres que encontraram oportunidades através dos programas oferecidos pela Secretaria da Mulher.
Em sua mensagem ao fim da entrevista, a gestora de políticas públicas deixa ensinamentos importantes para quem quer liderar mudanças positivas.
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Se levantem, se ergam e nunca esqueçam de levantar outras pessoas com vocês. Porque sozinho não adianta. Sozinhas, a gente cai. Com os outros, a gente faz o nosso time de ouro, que faz a gente continuar.