Por Mariana Santos
Doutoranda e Mestre em Serviço Social pela PUC-SP. Formação em Serviço Social e Ciências Sociais. Dez anos de atuação em serviço público, militante do Sistema Único de Assistência Social-SUAS e dos Direitos e Defesa de Crianças e Adolescentes.
Atualmente trabalhadora e pesquisadora do sistema socioeducativo paulista. Mãe do Apolo e da Luna.
Esqueça os mitos da assistência social
Na última coluna falamos sobre a política de Assistência Social no Brasil, hoje quero falar sobre a profissão do Assistente Social e acabar com alguns mitos sobre a profissão.
O surgimento da profissão está ligada com o processo de revolução industrial,no final do século XIX e início do século XX, as contradições sociais e econômicas começaram a ser objetos de estudo da sociologia e do serviço social.
A sociologia é uma ciencia que tem como objetivo estudar a sociedade em suas estruturas, instituições, comportamentos e processos sociais. Um dos estudos mais importantes da sociologia moderna foi o Suicidio de Emily Durkheim, inicialmente o suicidio era entendido em sua forma indivudual, porem ao estudar o suicídio como um fenômeno social, Durkheim destacou a importância de fatores sociais, como coesão social, integração e regulação, na determinação das taxas de suicídio. Portanto, a sociologia vai estudar o ser social. A profissão de sociólogo vem da graduação da faculdade de Ciências Sociais.
E o serviço social?
O serviço social é uma profissão dedicada à promoção do bem-estar social, à defesa dos direitos humanos e à busca por justiça social, tem como base muitos estudos sociológicos, porém sua diferença está na intervenção profissional, o foco do serviço social é o atendimento com os usuários e famílias.
Minha primeira formação profissional foi como socióloga; acredito que a sociologia me forneceu bases de estudos em que nada na vida cotidiana foi como antes.
Era como se usasse um óculos para correção de miopia, num desenho animado que assistia com meu filho eu viajava nas explicações sociológicas que poderíamos ter assistindo Bob Esponja por exemplo.
Cresci em contato com movimentos sociais de bairro e sentia falta desse contato com a população que a sociologia não me permitia, pois o trabalho do assistente social é de competência exclusiva e só quem pode exercê-lo é quem faz a graduação de serviço social e lá eu fui atrás da segunda graduação.
O serviço social me apresentou técnicas, instrumentos e outros estudos sociais. Não basta a boa vontade em ajudar as pessoas para ser assistente social; é preciso compreender as estruturas sociais que determinam as múltiplas expressões da questão social na vida dos sujeitos e coletividades. O papel do assistente social é justamente evidenciar essas camadas e trabalhar na mitigação desses problemas na vida dos atendidos.
Um dos maiores desafios no cotidiano profissional é justamente o tensionamento de acessos a direitos e a manutenção do status quo operadas pelas instituições sociais; a gênese dos serviços socioassistenciais estava ligada ao controle e repressão da população pobre e infelizmente que tem resquícios até hoje.
Acredito que o fim da pobreza e da miséria está diretamente ligada à formação de uma nova ordem societária. O atual sistema econômico precisa da pobreza de muitos para manter a sua acumulação de riqueza para poucos.
Tá bom, mas enquanto a nova sociedade não sai, qual o papel do assistente social?
Me pergunto diariamente isso rs, mas dentro da minhas atribuições tento facilitar o acesso aos direitos. Desde 2018 atuo como assistente social em um serviço de medida socioeducativa em meio aberto; para além da responsabilização e da reflexão com o adolescente a quem é atribuída autoria de ato infracional sobre as consequências lesivas do envolvimento com o meio delitivo, busco respostas junto às famílias do acesso aos direitos sociais que esses indivíduos precisam para desenvolver suas vidas longe do meio delitivo.
Tive um adolescente que trabalhou por anos no tráfico de drogas e quando foi pego, teve como medida socioeducativa a Liberdade Assistida. Durante 01 ano acompanhei o desenvolvimento escolar e social desse adolescente, ele voltou aos estudos e foi jovem aprendiz de um banco por dois anos; hoje ele realizou o sonho de ser maquinista de trem no interior de São Paulo e montou família. Percebem como a intervenção social pode mudar vidas?
Como dissemos no artigo anterior, as práticas assistencialistas são diferentes do que mencionei acima. O assistencialismo não é política pública; ele é importante mas não atua nas bases da desigualdade. Em situações de calamidade pública é ação da sociedade civil trazer o conforto e acolhimento urgente a que essas famílias precisam, porém é preciso que os diferentes entes federativos trabalhem para que essas situações não ocorram, com a criação de planejamento e destinação de orçamento adequado para ações de defesa e proteção de áreas naturais, por exemplo.
Por fim, quero que nesse 15/05, o dia em que comemoramos a profissão do Assistente Social, sejamos reconhecidos para além da entrega de benefícios socioassistenciais e possamos cada vez mais nos consolidar da Defesa intransigente aos Direitos Humanos.
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