PEC 504/2010: Os impedimentos que a mantém estagnada no Congresso Nacional há 20 anos

A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 504/2010 é uma das mais antigas em tramitação no Congresso Nacional. Seu objetivo é o reconhecimento do Cerrado e da Caatinga como patrimônios nacionais devido à sua importância ambiental, cultural e econômica. Embora aprovada quase por unanimidade no Senado em 2010, a PEC continua em análise na Câmara dos Deputados.

Neste conteúdo, abordaremos em detalhes o conteúdo da PEC 504/2010, os interesses políticos e econômicos que têm impedido sua aprovação, os argumentos a favor e contra, e muito mais. Continue lendo para ficar por dentro de tudo!

Qual é o conteúdo da PEC 504/2010?

A PEC 504/2010, proposta pelo ex-senador Demóstenes Torres (DEM-GO) em 2003, visa incluir o Cerrado e a Caatinga como patrimônios nacionais, juntamente com a Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal Mato-Grossense e Zona Costeira. 

Esses biomas compreendem cerca de 51% do território brasileiro, apresentando alta biodiversidade, incluindo espécies ameaçadas de extinção. Além disso, desempenham um papel importante na regulação do clima e equilíbrio hídrico do Brasil.

Quais são os interesses políticos que têm impedido sua aprovação?

A PEC 504/2010 encontra obstáculos políticos devido a divergências ideológicas e interesses regionais entre parlamentares, especialmente aqueles de estados com forte presença no agronegócio. Há preocupações de que a proposta restrinja o uso da terra, impactando a agricultura e a pecuária. A polarização política e alianças partidárias também dificultam o consenso, especialmente em questões ambientais. A falta de aprovação da PEC pode ser atribuída, em parte, a interesses econômicos ligados à agricultura e pecuária no Cerrado, onde setores temem restrições ambientais prejudiciais. Além disso, grupos do agronegócio exercem influência sobre políticos com interesse em manter a situação atual.

Quais são os argumentos a favor e contra a PEC 504/2010?

Argumentos a favor

  • Conservação da biodiversidade: A aprovação da PEC pode beneficiar a preservação de ecossistemas únicos e ameaçados, como o Cerrado e a Caatinga.
  • Regulação do uso da terra: A PEC estabelece parâmetros para o uso sustentável da terra, promovendo a conservação e recuperação de áreas degradadas.
  • Compromisso com o meio ambiente: A PEC demonstraria o comprometimento do Brasil com a proteção do meio ambiente em meio às preocupações globais com as mudanças climáticas.
  • Valorização cultural: A inclusão desses biomas como patrimônios nacionais também reconhece sua importância cultural e histórica para as populações locais.

“O Congresso Nacional tem nas mãos uma chance única com a aprovação da PEC 504/2010. Ela sinalizaria para a sociedade civil brasileira, para os entes federados e para os governos de todo o mundo, além dos organismos multilaterais, que o país está vigilante em relação à degradação das regiões ecológicas da Caatinga e Cerrado, fortalecendo a sua posição como player global na questão ambiental e abrindo possibilidades para inovações em políticas públicas de proteção ao meio ambiente em quase metade do seu território.” 

(Nota técnica da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado). 

Para ler a nota na íntegra, clique aqui

Argumentos contrários 

Em 2010, a orientação da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foi contrária ao projeto, sob a justificativa de:

  • “A inserção do Cerrado e Caatinga ao patrimônio nacional do Brasil traz à tona insegurança jurídica com relação ao uso e manejo das propriedades rurais que já estão estabelecidas nessas áreas, especialmente do cerrado, que atualmente é uma região altamente produtiva de grãos, fibras, carnes e diversos outros produtos agropecuários.
  • Os biomas são de extrema relevância para o agronegócio brasileiro e a maior parte das áreas degradadas encontram-se em fase de recuperação, tornando-se altamente produtivas.
  • Os números do Cerrado mostram isso: mais de 50% da soja produzida no Brasil provém do bioma, que é responsável ainda por cerca de 30% do milho e 20% do arroz produzidos nacionalmente e 35% do rebanho de bovinos.”

Como essa PEC poderia impactar a sociedade se fosse aprovada?

A aprovação da PEC 504/2010 teria impactos significativos na sociedade brasileira, promovendo a conservação da biodiversidade, a proteção dos recursos hídricos e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis. 

Além disso, poderia contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, uma vez que esses biomas desempenham um papel importante na captura de carbono.

Quais são as perspectivas futuras para a PEC 504/2010?

A aprovação da PEC 504/2010 ainda é incerta devido à polarização política e aos interesses econômicos envolvidos. A pressão da sociedade civil e grupos ambientalistas pode aumentar o apoio a ela, mas será essencial uma negociação política para garantir seu progresso.

Quais medidas podem ser tomadas para destravar sua tramitação no Congresso Nacional?

Para agilizar a tramitação da PEC 504/2010, diversas medidas podem ser consideradas:

  1. Diálogo e negociação: Estabelecer um diálogo construtivo entre os interessados, buscando pontos de convergência e soluções que conciliem a conservação ambiental e o desenvolvimento econômico.
  1. Educação e conscientização: Sensibilizar a sociedade sobre a importância da preservação do Cerrado e da Caatinga, destacando os benefícios econômicos e ambientais a longo prazo.
    1. Incentivos econômicos: Desenvolver políticas que incentivem práticas agrícolas sustentáveis e promovam a conservação dos biomas, compensando os agricultores pela adoção de medidas de proteção ambiental.
    1. Pressão da sociedade civil: A mobilização de grupos ambientalistas e cidadãos interessados pode aumentar a pressão sobre os legisladores para tomarem medidas em prol da PEC.
    1. Busca de consenso: A busca por um consenso amplo entre as partes interessadas é essencial para avançar com a PEC e garantir que as preocupações econômicas e ambientais sejam equilibradas.

    Diante da relevância do Cerrado e da Caatinga para o Brasil, a proposta da PEC 504/2010 surge como uma iniciativa fundamental para a proteção desses biomas. Ao garantir a preservação da biodiversidade e o equilíbrio ambiental, essa proposta demanda um esforço conjunto da sociedade, políticos e setores interessados. Portanto, é essencial que todos se unam em prol do bem-estar do país, assegurando a aprovação dessa medida fundamental para a conservação de nossos ecossistemas.

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