Avanços na Agenda Climática
a partir da trajetória e visão de
Marina Marçal
Estratégias para combater a mudança climática, atingir a redução das desigualdades e compreender a COP30 e a posição do Brasil nos últimos anos
A emergência climática é uma realidade inegável que demanda ações imediatas e coordenadas em níveis globais, nacionais e locais. Marina Marçal, uma renomada especialista em meio ambiente e clima, oferece uma visão única e fundamentada sobre os desafios e oportunidades que enfrentamos nesse cenário. Sua trajetória e engajamento em questões socioambientais proporcionam uma perspectiva valiosa para entendermos como podemos avançar nessa agenda tão urgente.
Marina traz consigo uma formação sólida e diversificada, enraizada em sua ancestralidade e enriquecida por experiências práticas e acadêmicas. Graduada em Direito pela Universidade Federal Fluminense, ela expandiu seu conhecimento ao obter um mestrado em Sociologia e Direito e um segundo mestrado em Relações Étnico-Raciais. Atualmente, realiza trabalhos em diversas organizações, como DHESCA e C40 Cities, além de atuar no secretariado executivo do Urban20. Encontra-se também em fase de doutorado em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense. Essa formação multidisciplinar proporciona à ilustre convidada do QTRCast uma compreensão abrangente das questões que permeiam a intersecção entre direito, sociedade e meio ambiente.
A Trajetória Acadêmica e Profissional de Marina Marçal
Marina Marçal – Então, eu sou uma pessoa (…) que pensa muito na importância da gente compartilhar conhecimento, da gente ter um olhar interdisciplinar, de fato, para o mundo, e poder agir como multiplicadora. Muitos amigos brincam que eu sou meio polvo, fazendo muitas coisas, mas eu me sinto também muito conectora, sabe, das pessoas? Para potencializar esse trabalho com agenda de clima e meio ambiente, tornar essa discussão mais democrática possível. Alguns trabalhos que vocês me perguntaram aqui, talvez que moldaram isso.
Eu sou formada em Direito pela Universidade Federal Fluminense, tenho também o Mestrado em Sociologia e Direito pela mesma universidade. Um outro mestrado em Relações Étnico-Raciais pelo CEFET no Rio de Janeiro e atualmente sou doutoranda em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense, mas fiz parte do meu doutorado em Columbia, em Nova Iorque, no Programa de Meio Ambiente e Energia.
Profissionalmente, estou atuando como Chefe de Diplomacia para Cidades, numa ONG internacional chamada C40 Cities, que trabalha com prefeitos e prefeitas de grandes cidades no mundo. É um prazer estar contribuindo para que a cidade tenha um trabalho de destaque na agenda de clima e possam avançar a implementação.
Eu também sou relatora da plataforma Dhesca Brasil, que é um conjunto de mais de 49 organizações. Dhesca é a sigla de direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais. Fiquei muito feliz de ter passado por essa seleção e ser escolhida para ser uma das relatoras no Brasil sobre a situação desses direitos no nosso país, junto com outras sete mulheres negras.
Então, a gente está muito feliz de ter um mandato com grandes responsabilidades, mas com gente muito competente. Eu também estou no Conselho Consultivo da Frente Parlamentar Ambientalista. No Conselho Consultivo do Fundo Brasil de Direitos Humanos e eu recebi um convite hoje bem bacana também de outra ONG, espero poder anunciar em breve. Eu dou aula em algumas universidades também que me convidaram, como a PUC de Minas, uma pós-graduação em ESG e mais recentemente na ESPM.
– conta Marina na entrevista.
Formação a partir da ancestralidade e dos cursos de extensão
Marina destaca a importância de sua origem e da influência de mulheres negras em sua formação, reconhecendo que “a vida de toda mulher é uma vida política”. Sua participação em cursos de extensão, como seu trabalho de campo na Amazônia durante a graduação, foi fundamental para moldar sua visão de advocacia pública e acesso à justiça. Essas experiências a levaram a compreender o papel essencial do direito na promoção da equidade e na defesa dos direitos das populações marginalizadas.
Eu diria que começou muito com a minha formação por mulheres negras, de onde eu vim. Acho que a vida de toda mulher é uma vida política. Minha família me deu uma base muito sólida para ter essa noção. Mas, para mim, foi muito importante ser de uma universidade que pensava em ensino, pesquisa e extensão. Então, ainda na graduação fiz uma extensão em 2011, 2012, não lembro. Meu primeiro trabalho de campo na Amazônia, e lá eu vi uma defensoria pública que trabalhou embaixo de um pé de jambeiro por três dias. E eu pensei, esse é o tipo de profissional do direito que eu quero ser, sabe? Que facilita o acesso para a população, que entende que a gente tem um papel social muito importante, não um direito que esteja afastado das populações. Eu acho que esse trabalho como pesquisadora, sem dúvidas, foi algo que me mudou para a vida, é algo que quando o propósito está longe do impacto social que eu acredito, eu volto para o meu centro, para as minhas origens e repenso como… continuar seguindo de forma estratégica.
Marina Marçal – Muitas pessoas também me conheceram pelo meu trabalho no Instituto Clima e Sociedade, em que eu coordenei o portfólio de política climática, apoiando organizações e fazendo diretamente também engajamento de governadores, prefeitos, parlamentares, coordenando o pavilhão da Sociedade Civil Brasileira nas conferências do clima em 2021 e em 2022, um trabalho de grande referência. Trabalhei um período curto na prefeitura do Rio de Janeiro, logo fui “cooptada (risos)” para trabalhar na C40 Cities, mas a gente tem uma relação muito boa com a prefeitura do Rio. Eu fiz um evento na COP do ano passado em Dubai, o prefeito Eduardo Paes falou que a prefeitura vai estar sempre de braços abertos para mim, mas eu acredito que o meu trabalho hoje não está afastado da prefeitura do Rio de Janeiro.
Marina Marçal – Então, acho que, resumindo para vocês esse tempinho, um pouco do muito que eu já fiz, tenho feito, com certeza devo ter esquecido de outras coisas, mas quem está ouvindo a gente pode ver nas minhas redes.
Conexão com a pauta climática
Desde sua graduação, Marina demonstrou um interesse genuíno na intersecção entre direito urbano, justiça social e meio ambiente. Seu engajamento em pesquisas sobre conflitos socioambientais, tanto em contextos rurais quanto urbanos, e seu trabalho no Instituto Clima e Sociedade destacam sua dedicação em abordar os desafios emergentes relacionados às mudanças climáticas. Ela ressalta a importância de compreendermos a dimensão urbana do meio ambiente e reconhecermos a cultura como uma estratégia de sobrevivência para comunidades em regiões de violência.
Marina Marçal – Veio muito da graduação, sim. Eu lembro que meu orientador falou: “o que você quer entregar de texto, de monografia?” Eu falei que queria entregar algo que fizesse sentido para a minha vida. Eu vou comentar muito rapidamente de um trabalho que eu entreguei nesse sentido. Ele falou: “você não estudou a vida inteira em Madureira? Nasceu em Madureira? Por que você não trabalha na perspectiva do direito urbano? Daquele baile charme que você adora embaixo do viaduto.” E é um trabalho que eu mergulhei muito, de fato.
Tentei demonstrar ali na minha monografia o quanto a cultura vem como estratégia de sobrevivência para algumas populações em região de violência. E os baixos dos viadutos são vistos como não lugar. E muitas pessoas esquecem dessa dimensão do meio ambiente. Pensar a dimensão urbana do meio ambiente, que hoje eu estou me reconectando com isso. Trabalhando muito com enfoque de cidade. E aí foi muito bacana um trabalho de olhar por que que acontecia no Baixo do Viaduto, que são lugares marginalizados. A gente tem um baile há mais de 20 anos hoje, que tiram os jovens da possibilidade de ir para o tráfico, de não ter acesso à cultura. O trabalho serviu de subsídio para que o Baile Charme fosse reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. – conta Marina Marçal
Marina Marçal – Depois veio o convite de ir para a Amazônia. Eu, naturalmente, me conectei com aquelas mulheres negras quilombolas. Muitas não se diziam negras. Fiz vários trabalhos sociais lá nesse sentido, além da minha pesquisa. E foi onde eu me conectei, na verdade, com essa agenda de meio ambiente. Porque a minha linha, a partir disso, seguindo já nas pesquisas de graduação, era uma linha de pesquisa de conflitos socioambientais rurais e urbanos. Eu também trabalhei nessa época no mapa de injustiça ambiental da Fiocruz, é um mapa super famoso que eu acho importante divulgar aqui para que as pessoas conheçam. Era um exercício da gente de mostrar à população no Brasil onde existiam conflitos socioambientais, rurais e urbanos e que existem há muitos anos.
Marina Marçal – Então, acho que poder usar o direito como ferramenta de acessibilidade de direitos para as pessoas mais afetadas pelo ônus do desenvolvimento do nosso país, do suposto desenvolvimento do nosso país, era algo que me trouxe muito sentido, muito propósito, principalmente sendo uma mulher negra suburbana.
Responsabilidade das cidades frente às mudanças climáticas
A convidada enfatiza o papel fundamental das cidades na mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Como chefe de Diplomacia para Cidades na C40 Cities, uma ONG internacional que trabalha com líderes municipais em todo o mundo, ela defende uma abordagem proativa e colaborativa para enfrentar os desafios climáticos. Marina instiga prefeitos e prefeitas a desenvolverem planos de ação robustos, conscientizando o eleitorado sobre a importância de considerar a agenda climática ao votar.
Marina Marçal – Então, eu gosto muito de trazer essa corresponsabilidade para os prefeitos e prefeitas e os futuros candidatos; qual é o plano deles para a agenda de clima e meio ambiente? Porque a narrativa de dizer “fomos surpreendidos pela chuva” não vai mais colar.
Marina Marçal – A gente está conscientizando a população como um todo. E, por outro lado, conscientizar o eleitor de que na hora de votar ele não tem que pensar com um viés restrito a emprego, saúde e educação. Porque se ele não pensar em mudança do clima vai afetar o emprego dele e a saúde dele.
“A gente está vendo isso com os casos de dengue aumentando no Brasil, leptospirose, tantas doenças respiratórias que têm a ver com a mudança do clima.
E também a educação. Já contribui muito para alguns artigos e entrevistas nesse sentido, eu sei que é um debate que interessa muito a vocês, trazendo um exemplo: quando uma escola é afetada, as crianças têm que mudar para outra escola, então isso afeta a quantidade de dias letivos que se tem no ano.
Então, acho que é cobrar, conscientizar o nosso eleitorado de que eles têm que votar em pessoas preocupadas com essa agenda e cobrar desses candidatos que apresentem um plano de prevenção de políticas que sejam satisfatórias para os desafios que a gente vai ter e nem imagina.”
Desigualdades sociais e a pauta ambiental
Marina ressalta a interseccionalidade entre desigualdades sociais e ambientais, destacando que enfrentar essas disparidades é uma escolha consciente que a sociedade pode fazer. Ela enfatiza a necessidade de uma transição energética justa, que não apenas reduza as emissões de gases de efeito estufa, mas também aborde as desigualdades existentes. Seu trabalho visa garantir que as políticas públicas sejam inclusivas e equitativas, beneficiando especialmente as comunidades mais afetadas pelos impactos das mudanças climáticas.
Marina Marçal – O mundo inteiro passa por desigualdades sociais e econômicas e a gente pode fazer escolhas de enfrentá-las ou não. Eu acho que o Brasil hoje está vivendo o momento, retomando o momento, na verdade, para quem não sabe, historicamente o Brasil sempre foi um protagonista na agenda de meio ambiente e clima. A gente está, na verdade, retomando esse protagonismo, mas a gente pode retomar esse protagonismo dando um salto maior e inspirando outros países, principalmente no contexto geopolítico de guerra, como a gente tem passado, que também tem a ver com a questão climática.
Marina Marçal – Então, o que eu tenho dito nos últimos cinco anos, acho que qualquer contribuição minha vocês vão ver isso, é que eu acho que o Brasil pode ajudar na luta da mudança do clima, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa, descarbonizando, seguindo por uma transição energética, mas que também seja uma transição justa, seguindo para a diminuição de gás de efeito estufa, mas sem acentuar desigualdades existentes. E por que eu estou dizendo isso?
Eu acabei de falar da possibilidade de gerar empregos, empregos verdes. E a gente pode escolher quem vai ser o alvo desses empregos. A gente vai gerar empregos, como eu já vi muito na Amazônia, por exemplo, na Amazônia Brasileira, principalmente no contexto do Pará, para quem é de fora do Pará ou para quem é de dentro de lá? Eu já contribuí, por exemplo, com projetos e a C40 Cities também tem um apoio muito bacana, um projeto que eu vou mencionar aqui, que é o La Rolita, na Colômbia, que é capacitar mulheres para serem motoristas de ônibus elétricos. Então, você acaba juntando duas agendas de descarbonização, para vocês terem uma ideia, Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, grandes cidades que a gente tem, que sediam grandes eventos, o setor mais importante pela emissão de gases de efeito estufa é o transporte. Então, por que não reduzir a emissão de gases, mas também reduzir desigualdades?
Marina Marçal – Na época que eu fui apresentada a esse trabalho, eu falei, nossa, eu tinha incentivado a mesma coisa na Prefeitura do Rio de Janeiro. Ele falou, é bacana, porque na verdade ele vai trazer uma dimensão de gênero. E aí eu brinquei na importância da gente ter mulheres negras como eu nesses lugares. Eu falei, “não é de gênero, é de gênero e raça”. Porque se a gente está falando de um projeto desse, no subúrbio do Rio de Janeiro, a maior parte da população de mulheres do subúrbio do Rio de Janeiro são mulheres negras. (…) Então, abrir essas perspectivas, essas lentes para que as políticas públicas possam ser boas para o clima, mas também para as pessoas que estão dentro desse meio ambiente e clima, e a gente não polarizar, sabe? “Ah, eu quero saber do meu emprego, o que se dane o meio ambiente”. Não! É entender o entrelaçamento dessas duas perspectivas e a gente pode, como país, inspirar outros a reduzir essas emissões, mas também reduzir desigualdades existentes num país tão desigual como o nosso.
Desafios da agenda climática e ambiental diante dos avanços da emergência climática
Marina identifica diversos desafios e oportunidades na agenda climática e ambiental. Ela destaca a importância de eventos globais, como a COP30 em Belém, e aponta a conferência como uma oportunidade para o Brasil liderar pelo exemplo e inspirar ações significativas em níveis nacional e internacional.
Além disso, ela ressalta a importância do G20 na promoção da inclusão social, transição energética e reforma da governança global. Marina encoraja uma abordagem corajosa e colaborativa para enfrentar os desafios da emergência climática, reconhecendo que o Brasil tem um papel fundamental a desempenhar nessa luta global.
Olha, Natalia, a gente tem muitas oportunidades. Se você olhar agora, eu sou uma pessoa que tenho muito orgulho de ter trabalhado, feito lobby mesmo para o Brasil cobrar que a COP fosse possível de ser realizada aqui. E posso trazer um pouquinho do contexto do porquê dessa possibilidade. Acho que é bacana para o nosso ouvinte entender por que a COP vai ser realizada aqui. Acho que a gente tem essa Conferência do Clima que se realiza em 2025, a COP30 em Belém, é uma grande oportunidade. E eu destacaria esse ano o G20, eu acho que é uma trilha que nos coloca nesse direcionamento de sustentabilidade para entregarmos uma Conferência do Clima que possa ser sem precedentes, assim como a gente realizou a primeira na Eco-92.
Marina Marçal – Mas recapitulando aqui a questão que eu te falei da oportunidade com a COP-30, porque o presidente Lula cobrou essa agenda, na verdade o Brasil estava eleito para sediar a Conferência do Clima em 2019. E aí, naquele ano, o presidente Bolsonaro rejeitou a Conferência do Clima. Então, as Organizações de Sociedade Civil se mobilizaram, a gente criou esse pavilhão do Brasil, do tipo, se o presidente não quer, a gente quer, e apresentamos isso.
Marina Marçal – Na época, e por isso que eu falo muito da conexão também entre clima e democracia, mudou para o Chile, (…) eclodiram manifestações e acabou mudando de última hora para Madri. Foi ali que a gente teve essa criação de um pavilhão Sociedade Civil Brasileira mostrando a agenda de clima e isso é retomado com mais protagonismo nos últimos anos, agora com essa unidade. Porque durante o governo Bolsonaro acabou que na COP em Glasgow no Reino Unido, em 2021, houveram dois pavilhões do Brasil, um do governo federal, um da sociedade civil. Na COP22 no Egito foram três, um da sociedade civil, um do governo federal e um das cidades amazônicas – foi bem interessante o consórcio de governadores da Amazônia. E aí a gente chega em 2023 em Dubai com um pavilhão, né? Mostrando essa unidade, a potência da unidade da troca. Que é isso, nunca houve o interesse da sociedade civil de estar apartado, mas acho que tem uma possibilidade aí de conectar essas oportunidades com os desafios que já são existentes nos territórios. E aí, quando o presidente Lula é eleito, os ativistas ambientalistas, a gente fez esse briefing, né? Ah, o que eu deveria pedir então? Pede a COP aqui.
” E agora eu brinco grande poderes, grandes responsabilidades. (…) Eu chorei, me emocionei com a felicidade do resultado da COP acontecer aqui e agora fica o desafio de como a gente entrega uma conferência que recebe 40 mil pessoas numa cidade amazônica que tem muitas carências de infraestrutura.
Mas eu nunca vou me arrepender dessa escolha. Cidades como Rio, São Paulo, Brasília já têm uma certa infraestrutura, mas eu acho que a gente pode mostrar para o mundo pelo que a gente está lutando quando realiza uma COP na Amazônia e, sobretudo, deixar um legado para a população amazônida que seja bom para ela e não só bom durante os 15 dias ali da conferência. Então acho que essa é uma grande oportunidade que a gente tem com a COP30, mostrar para o mundo o que a gente está defendendo.”
Marina Marçal – a gente passou por muitas conferências agora do clima em países muito dependentes de combustível fóssil, como Dubai, como Os Emirados Árabes Unidos, como o Egito, que eu tive esse ano, vai ser no Azerbaijão, então o cenário não muda. Então, fazer o Brasil mostrar para o mundo a nossa grande responsabilidade, talvez, com a nossa maior guerra atual, que é a mudança do clima.
Marina Marçal – Se a gente não resolver como diminuir os avanços dessa emergência climática, a gente vai sucumbir antes de ter a possibilidade de um país guerrear com o outro.
Marina Marçal – Então acho que essa é uma agenda fundamental também de se interseccionar com outras, como as lutas de gênero e as lutas de raça. Eu acho que não necessariamente existe algo maior, mas mostrar o quanto se intersecciona com outras agendas. Eu, como mulher negra, como ativista negra, eu tive dificuldade no começo de ver, e por isso que eu acho muito importante mostrar para as pessoas essa interlocução dessas agendas.
E aí, fechando rapidamente, sobre o G20, que é exatamente esse grupo das 20 maiores economias, que no final dos anos 80, salvo engano, resolvem debater com chefes de Estado, com o Ministro de Economia, como trazer um paradigma de diretrizes comuns diante de uma crise econômica que aconteceu na época.
Esse ano acontece no Brasil e o Brasil escolhe três prioridades.
- A primeira de inclusão social. Então, de novo, essa oportunidade de liderar, pelo exemplo, na luta contra as desigualdades, com uma preocupação muito grande com a questão da fome e da pobreza, que o Brasil volta para o mapa da fome.
- O segundo ponto é a transição energética, que eu também falo das oportunidades de ser uma transição energética justa.
- E o terceiro ponto, que é uma agenda um pouquinho mais técnica, que é a reforma da governança global. Tem vários direcionamentos nesse sentido, a gente pode pensar na reforma de sistemas como a ONU, sistemas de paz, o quanto estão sendo de fato efetivos em contexto de aumentar guerras com países de grande influência. Mas também as reformas dos bancos multilaterais, eles vão continuar financiando atividades dependentes de combustíveis fósseis, ou eles podem acelerar o financiamento para as cidades liderarem, por exemplo, podem acelerar o financiamento para projetos de impacto social para populações indígenas e quilombolas.
Marina Marçal – O sistema financeiro do mundo, das 20 maiores economias, eles são responsáveis por 80% do PIB mundial. Então, eles podem ditar o rumo para onde vai a nossa economia, mas também os impactos sociais dessas escolhas econômicas. Então, acho que é uma grande oportunidade, Natalia. o G20 deste ano, o legado que o G20 pode deixar para o Brasil, inspirar o mundo. Não só as 20 maiores economias, [há também] muitos países convidados de África, por exemplo, África esse ano na geopolítica está sendo muito disputada. (…) e que essas diretrizes não sejam perdidas e sejam aprofundadas durante a COP30.
Ao analisarmos a trajetória e visão de Marina Marçal, fica claro que ela é uma voz influente e comprometida na busca por soluções sustentáveis e equitativas para os desafios climáticos que enfrentamos. Seu trabalho exemplifica a importância de abordagens interdisciplinares e inclusivas na construção de políticas públicas pensadas para um futuro mais resiliente e justo para todos.
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