A Trajetória de Pedro Aihara: Da Infância à Política e o interesse público no centro
Infância, Corpo de Bombeiros, Contato com Pessoas em Extrema Vulnerabilidade e Atuação em Prol da Justiça e da Proteção social
Pedro Aihara, deputado federal por Minas Gerais, tem uma trajetória marcada por sua origem simples em Belo Horizonte e sua dedicação à causa pública. Nascido em uma família de classe média baixa, Aihara valoriza a educação como chave para suas oportunidades na vida. Em sua infância, ele destaca a influência dos pais, especialmente da mãe, que incentivava os estudos como um meio de alcançar uma vida melhor.
Em uma entrevista reveladora ao QTRCast, Aihara compartilha suas memórias de infância, os desafios enfrentados como bombeiro e sua incursão na política.
Onde tudo começou
Olha eu morava num conjunto habitacional, sabe aquele conjunto habitacional? Eu fico brincando, mas não é de forma pejorativa, eu fico brincando que é igual um pombal, que tem a torre ABCDEFGH. E lá, como era um conjunto que tinha uma população muito grande, a gente tinha muito essas brincadeiras de queimada, de rouba-bandeira, de pega-pega, de pique-esconde. Hoje eu vejo que essas brincadeiras não existem nessa intensidade. Primeiro porque existe uma preocupação de insegurança muito grande por parte dos pais. E segundo também porque a galera hoje é muito voltada para essa parte dos jogos, dos games, das diversões digitais. Só que no meu caso, especificamente, eu não desfrutava tanto disso, porque como eu vivia num local onde a gente tinha muita gente ali que não valorizava o estudo, etc, minha mãe, ela falava assim: “ah, você não vai ficar na rua não, você vai ficar aqui dentro de casa, estudando, lendo”.
Então, assim, minha mãe, ela acabava que ela restringia e, justificadamente, um pouco isso, para que eu não tirasse o foco. E eu, como era bolsista integral nessas escolas, a regra para eu continuar sendo bolsista é que eu tinha que ficar como o primeiro lugar da minha série. (…) E aí eu ficava muito focado nessa parte de ler, de estudar.
Pedro Aihara – Então, assim, durante a minha infância, principalmente essa questão da leitura foi muito forte, E eu agradeço muito a minha mãe por isso, porque isso foi muito decisivo na minha vida, em termos de oratória, formação de vocabulário, em termos de estudo, mas em termos de brincadeira, assim, eram principalmente essas brincadeiras que eram dentro do condomínio, assim. E a preocupação dela era justificada, porque, infelizmente, né – eu não falo isso com felicidade nenhuma – boa parte das pessoas que conviveram comigo nessa época… tem gente, assim, isso é triste, né, tem gente que tá preso, tem gente que morreu, por causa de envolvimento com coisa errada, então… E lá na infância, você não consegue perceber esses riscos, né? Você é só uma criança. E aí a gente convivia e, enfim, foi uma infância muito saudável, graças a Deus, eu não tive nenhum problema, não tive que trabalhar durante a minha infância, essas questões, elas foram seguradas, então eu tive bastante tempo pra brincar e pra poder aproveitar.
Trajetória e infância de Pedro Aihara
“Eu sou mineiro, eu sou de Belo Horizonte e tenho muito orgulho em carregar Minas Gerais e a cidade de Belo Horizonte no meu peito. Eu vim de uma família de classe média baixa, uma família muito simples. Nem meu pai, nem minha mãe, infelizmente, tiveram acesso ao superior. Isso é uma questão importante, porque as oportunidades que eu tive na minha vida, elas foram proporcionadas principalmente por meio do estudo. Eu valorizo muito isso (…). Minha infância foi marcada pela valorização do estudo. Tanto eu quanto minha irmã éramos bolsistas em escolas e minha mãe sempre enfatizou a importância da educação.”
Pedro Aihara – Quando eu estava no ensino fundamental, minha mãe, ela hoje é artesã, mas ela era professora. E ela sempre valorizou muito essa questão da educação. Então, tanto eu quanto a minha irmã, nós fomos bolsistas em escolas. Logo depois, a gente fez concurso para o Colégio Militar de Belo Horizonte, que é uma escola pública, muito conceituada aqui em BH. Aí, eu fiz lá de 5ª até a 8ª série.
Pedro Aihara – E aí, quando eu estava na 8ª série, eu fiz concurso para a escola preparatória de cadetes do ar. E aí eu me tornei militar de aeronáutica, é a tropa mais nova do Brasil.
Pedro Aihara – Fiz o equivalente ao ensino médio lá, já sendo militar. E aí, quando eu formei na EPCAR, esses três anos eu fiquei na aeronáutica, eu fui pro Corpo de Bombeiros, fiz o curso de ação de oficiais, que é um bacharelado lá nessa parte de prevenção de catástrofes, pra poder ser oficial dos bombeiros. E, paralelamente a isso, eu também fiz direito no UFMG. Depois eu fui me especializar na parte de gestão de desastres, fui para o Japão estudar, me especializei também na USP, na UFJTF, na Fundação Dom Cabral e também fui fazer meu mestrado em Direito na parte de Direitos Humanos, estudando principalmente essa questão da formação em direitos humanos nas corporações militares.
Pedro Aihara – E ao longo da minha carreira no Corpo de Bombeiros, eu trabalhei na rua, na parte operacional, na coordenação operacional, e depois eu fui para a parte de assessoria estratégica. Eu fiquei uma parte da minha carreira na comunicação do Corpo de Bombeiros, e acabou que na comunicação eu fui porta-voz da instituição em grandes desastres, como o Brumadinho, que foi o principal deles, como também a situação do acidente aéreo da Marília Mendonça, como o período chuvoso, como a tragédia da creche “Gente Inocente” em Janaúba, quando aquelas crianças foram atacadas, incêndios grandes, como Santa Casa… Isso acabou trazendo uma determinada visibilidade para o meu nome.
Essa ênfase na educação moldou a visão de mundo de Aihara, permitindo-lhe compreender as desigualdades sociais desde cedo. Sua experiência em conviver com diferentes realidades sociais, tanto no Colégio Militar quanto na Universidade Federal de Minas Gerais, deu-lhe uma perspectiva ampla e sensível às necessidades das pessoas mais vulneráveis.
Conviver com diferentes realidades sociais me deu uma percepção das desigualdades e uma bagagem de mundo importante. Essa sensibilidade é fundamental para compreender e atuar em questões sociais. – conta o Deputado.
O trabalho como bombeiro transcende as fronteiras do serviço público; é um compromisso altruísta com a comunidade e uma dedicação incessante à segurança e ao bem-estar dos cidadãos. Pedro Aihara, atualmente Deputado, compartilha sua experiência com fervor, destacando não apenas a nobreza da profissão, mas também a visão distorcida que muitos têm do serviço público.
Em suas próprias palavras, Aihara revela uma mudança de percepção em relação ao serviço público: “Eu tinha preconceito com o serviço público, eu acho que é um preconceito que ele acomete boa parte da população brasileira”. Ele reconhece o estigma associado ao trabalho no setor público, mas destaca a dedicação e o comprometimento dos servidores: “o serviço público é composto por gente muito comprometida, muito dedicada”.
Aihara ressalta a essência altruísta do Corpo de Bombeiros, onde o serviço vai além do expediente regular: “quando você vê gente ali que fica muito além do horário de expediente, que tira do bolso, às vezes, para garantir uma política pública”.
Na entrevista, ele descreve encontros com famílias que vivem em condições precárias, destacando a desigualdade social e a falta de acesso a condições básicas de vida. Sua experiência pessoal o levou a refletir sobre as disparidades sociais e a sorte que muitos têm em não enfrentar as mesmas dificuldades: “quando você tem contato direto com isso, você percebe o tanto que a gente é privilegiado”. Pedro Aihara compartilha sua jornada como bombeiro e agora como Deputado, destacando a importância de reconhecer e abordar as desigualdades sociais para construir uma sociedade mais justa e equitativa.
Pedro Aihara – Uma coisa que eu acho maravilhosa, assim, eu vou fazer uma confissão aqui. Eu, antes de entrar para o serviço público, eu tinha preconceito com o serviço público, eu acho que é um preconceito que ele acomete boa parte da população brasileira, que essa ideia que boa parte da população brasileira tem de que o servidor público, ele faz menos do que aquele cara que está na iniciativa privada, de que ele é aquele cara que dá cinco horas da tarde, a caneta cai, E é lógico, gente, que num universo de milhares, milhões de servidores públicos, de milhões de pessoas, você sempre, em qualquer lugar, vai ter gente boa e gente que não é tão boa. Mas a regra é que o serviço público é composto por gente muito comprometida, muito dedicada.
Pedro Aihara – Então, assim, quando eu entrei para o serviço público, eu falo isso com muito orgulho, falo arrepiando aqui, porque quando você vê gente, quando você entra e você vê gente ali que fica muito além do horário de expediente, que tira do bolso, às vezes, para garantir uma política pública. Eu já paguei do meu bolso com o serviço de viatura, para a viatura não ficar baixada. Quantas vezes eu visito muitas escolas aqui e quantos professores que eu conheço, que tiram dinheiro do bolso para comprar material para aplicar ali nos alunos, quantas enfermeiras que eu conheci nos hospitais, que a pessoa já passou do plantão dela, mas está prestando apoio ali para a família, está fazendo uma orientação, quantos servidores públicos, que além de servidores públicos, são psicólogos, são orientadores, assistentes sociais. Então, isso é uma coisa que é muito bonita.
Pedro Aiara – E no Corpo de Bombeiros, como a gente trabalha com um objeto, com um escopo, que ele é muito altruísta, naturalmente, você tende a ter pessoas lá que são pessoas que já valorizam isso. Então, assim, de fato, é uma turma muito boa, uma turma muito altruísta. (…) E o que eu vejo como mais positivo dentro do Corpo de Bombeiros, é você ser esse serviço público que há sempre a possibilidade, ela está abaixo da vontade, e a gente utiliza de todo tipo de função criativa para fazer o atendimento. Eu tive a oportunidade de estudar no Japão, e lá, quando a gente chega no Japão, você tem viatura, você tem recurso, você tem procedimento, você tem muita estrutura. Mas uma coisa que é diferente lá daqui é porque aqui a gente mesmo, muitas vezes, sem ter todo o recurso necessário, toda a estrutura necessária, a gente dá um jeito de resolver. E a gente dá um jeito de resolver não porque a gente é obrigado a dar um jeito de resolver, mas porque a gente acredita, porque a gente se envolve com aquilo dali. Então isso é bacana, sabe?
Ofício de bombeiro, o serviço público e o cotidiano do povo
As pessoas têm uma visão muito deturpada do serviço público e eu tive a oportunidade e tenho de vivenciar essa outra parte. E isso me deixa muito orgulhoso. E a parte mais complicada é porque quando a gente fala de corpos de bombeiros, de polícia militar, de algumas áreas da educação e da saúde, que a gente trabalha com serviço público na ponta da lança, em prestação direta ao cidadão, você vê a realidade social escancarada. Então, ao longo do seu dia, você cruza com muitas pessoas que têm realidades muito diferentes das suas, só que nesse cruzar no dia a dia, você não consegue identificar isso.(….) Agora, quando a gente vai atender uma ocorrência dentro da casa da pessoa, que é o que acontece o tempo todo, não tem como disfarçar a situação.
E aí você entra, às vezes, ali numa casa, num barraco ali, que a pessoa tá quatro, cinco dias comendo arroz, que ela não sabe o que é comer uma carne, não sabe o que é ter acesso a determinadas situações, e aí você chega, você passa a conhecer que dentro da sociedade, e eu quando entrei, isso foi um dos meus maiores choques.
Pedro Aihara – Eu lembro que eu tava fazendo uma matéria, uma disciplina no direito, (…) a gente estava estudando um livro do Jessé de Souza que chama “Ralé Brasileira”, que fala sobre a socialização do brasileiro, sobretudo aquele que é mais vulnerável do ponto de vista social. E aí eu lembro que eu já tinha estudado esse livro, só que aí quando você chega, de fato, entrando na realidade das pessoas, aí você começa a entender uma série de situações.
Pedro Aihara – E aí uma das ocorrências, por exemplo, eu cheguei para atender um senhor que ele tinha batido a cabeça, que ele tinha feito uso de bebida alcoólica, tinha caído, e a gente foi fazer o atendimento dentro da casa desse senhor, que fica numa comunidade carente aqui na região metropolitana de Belo Horizonte. E aí esse senhor, ele morava para 15 metros abaixo do nível da rua, então na casa dele não chegava luz; ele pegava duas horas e meia pra poder ir de ônibus pro trabalho e duas horas e meia pra voltar. Então ele ficava cinco horas em deslocamento; trabalhava mais ou menos umas dez horas; voltava pra esse local em insalubre, que ele vivia, e ele não tinha nenhum equipamento de lazer, nada próximo da casa dele. Então a diversão dele era chegar num boteco na esquina, comprar uma pinga de um real ali, e a vida da pessoa era aquilo dali.
Pedro Aihara – E aí você fica muito impressionado, porque as pessoas sempre me perguntam muito isso, qual que é a pior coisa que você viu e vê nos bombeiros? A pior coisa não é você ver acidente, onde você vê gente morrendo, gente carbonizada, pedaço de corpo, corpo de destruição. Porque a morte é necessariamente a última coisa da vida, mas ela não é pior. Tem muita gente no Brasil que vive em condições subumanas. (…) E aí, isso sempre me machucou muito. Então, assim, o que sempre mais me impressionou, e não tô falando isso da boca pra fora, isso sempre me deixou muito pensativo, é como que, às vezes, assim, os abismos sociais, eles acabam proporcionando modos de vida que são extremamente cruéis. E quando você tem contato direto com isso, você percebe o tanto que a gente é privilegiado, mesmo, às vezes, a gente também tendo as nossas dificuldades.
Brumadinho
Como vimos acima, sua experiência como bombeiro moldou sua visão sobre o serviço público, desafiando preconceitos e mostrando a dedicação e o compromisso dos servidores públicos comuns. “Quando você vê gente, quando você entra e você vê gente ali que fica muito além do horário de expediente, que tira do bolso, às vezes, para garantir uma política pública… isso é uma coisa que é muito bonita.” Essa sensibilidade e consciência social o levaram a uma carreira dedicada ao serviço público, primeiro como militar da Aeronáutica e depois como oficial do Corpo de Bombeiros. Seu trabalho no Corpo de Bombeiros o colocou na linha de frente de grandes desastres, como o rompimento da barragem em Brumadinho.”A tragédia de Brumadinho é visceral para mim. Foi um crime que resultou na morte de 272 pessoas devido a negligências e omissões. Isso é inaceitável.”
Pedro Aihara – Olha, o Brumadinho, assim, é uma coisa que é muito visceral pra mim e ao longo desses cinco anos, desde que o crime, o desastre do crime aconteceu, eu já passei por muitos sentimentos e por muitos momentos. Hoje, o sentimento que eu vivencio é um sentimento muito de injustiça, de impunidade. E por que isso merece ser analisado? (…) eu sou um especialista, sou um técnico na parte de desastres, e desastres, eles não acontecem por acaso.
Pedro Aihara – Existem algumas situações muito específicas que a gente pode ter desastres que são provocados por questões naturais específicas, mas quando a gente fala de um desastre de rompimento de barragem, de um desastre tecnológico, ele é provocado pelo homem, sobretudo no contexto no qual ele aconteceu, isso só acontece se muitas negligências, se muitas omissões, se muitas condescendências criminosas, se muitas faltas de cuidados e crimes e omissões forem cometidas.
” E por que isso merece ser pontuado? Porque não foi um acidente. A gente não tem uma estrutura de uma barragem, que é uma estrutura dantesca, rompendo, sem que antes inúmeros indicadores, inúmeros sintomas, inúmeras patologias, do ponto de vista construtivo, elas indiquem aquilo dali. E aquilo dali só resulta numa situação em que o rompimento efetivamente ocorre e mata 272 vidas, se isso é somente ignorado.
E se isso é solenemente ignorado, é porque muita gente colocou o dinheiro acima da vida, colocou os resultados acima das pessoas, e essas pessoas têm que ser responsabilizadas. E por que isso é muito forte pra mim? Porque obviamente eu não tô aqui pra defender nenhum tipo de crime, nada de errado. Mas quando você pensa que uma pessoa que às vezes comete um furto familiar, que não tô justificando nem defendendo não, ela, em alguns dias, ela tá presa, ela cumpre uma pena ali, ela já tá na cadeia, e você pensa em, às vezes, um dirigente, um presidente de empresa, um diretor de operações, uma pessoa que tinha a responsabilidade de fazer um laudo ali, e foi completamente, teve uma atitude criminosa, foi completamente condescendente, omisso, e ela mata 272 pessoas, e tem cinco anos que isso aconteceu, e ninguém tá preso, isso mata novamente essas pessoas.“
Pedro Aihara – Eu converso, obviamente, com muitos familiares de vítimas, e uma coisa que é muito comum no discurso, que é muito presente, é que eles sempre diziam o seguinte, falam assim, “todo dia eles matam o meu filho, a minha esposa, o meu esposo de novo”. Porque quando a gente vê, depois desse nível de sofrimento que a gente sofre por causa dessa situação do desastre, a gente vê esse pessoal com a vida absolutamente da mesma forma que eles tinham, isso sim é um escárnio, um deboche na cara de todas essas pessoas. E aí a gente vê que, infelizmente, a justiça no Brasil, embora ela tenha uma atuação de incríveis magistrados, juízes que são muito bons, a gente também vê uma parte da justiça que funciona diferente conforme seu sobrenome, conforme o dinheiro que você tem, conforme o lobby de quais empresas que tá envolvido.
Pedro Aihara – Eu acho que o Brasil tem até um dever simbólico mesmo da gente dar uma resposta para essas pessoas, porque quando a gente fala de reparação, quando a gente fala de dignidade, a melhor forma de conceder dignidade para as pessoas, para os familiares que sofreram e sofrem até hoje com isso, é impedindo com que isso se repita. Mas quando acontece Mariana, a gente não tem uma responsabilização, a gente faz com que Brumadinho aconteça novamente.
Desigualdades sociais e a pauta ambiental
Aihara, como porta-voz do Corpo de Bombeiros durante o desastre de Brumadinho, testemunhou em primeira mão a dor e a injustiça enfrentadas pelas vítimas e suas famílias. Sua luta incansável por justiça e responsabilização dos culpados é uma parte central de sua agenda política.
A impunidade em casos como Brumadinho é uma ferida aberta para as famílias das vítimas. É fundamental que os responsáveis sejam responsabilizados. – ressalta o ex-bombeiro na entrevista.
Pedro Aihara – E se acontece Brumadinho e a gente não passa um recado para a sociedade, que a responsabilidade empresarial penal ela tem que acontecer, acontece o caso da Braskem lá em Maceió. (…) Então assim, hoje o meu sentimento ele é de esse gosto rançoso, assim, da injustiça, da impunidade. E é lógico, gente, eu sou bacharel, sou mestre em Direito, eu entendo, obviamente, as questões técnicas, todas as complicações que existem nesse caso, e respeito profundamente o trabalho do Judiciário, do Ministério Público, da Secretaria Pública e de tantas outras instituições, mas eu realmente, eu acho que a gente, em algum momento, a gente tem que parar e ter uma reflexão existencial, filosófica mesmo… Não dá pra gente achar normal 272 morrerem por uma negligência, por um crime, e cinco anos depois nada ter acontecido.
Pedro Aihara – Você [Ygor] falou o seguinte, o estado de vocês é o Rio de Janeiro e praticamente todos os ex-governadores estão presos. Em algum momento a gente parou de se escandalizar com isso. A gente achar isso tudo normal. Eu falo assim, gente, como é que todo mundo pode achar normal a gente ter essa quantidade de político preso, de um governador, de um chefe do poder executivo de um estado, por corrupção, por pegar dinheiro que não é dele, por fazer todo tipo de manobra, coisa que até Deus duvida, pra poder oferecer vantagem pessoal. Então, assim, a gente tem que acreditar e tem que realmente lutar pra falar assim, gente, não dá pra ser assim.
A gente tem que entender que é possível mudar e que é necessário mudar. Não dá também pra gente ter aquela postura de descrença, ah, não, política é uma porcaria mesmo, eu não vou me envolver com isso, que de toda forma o pessoal vai roubar e eu vou fazer errado. Não, se a gente entende que essa doença, que esse câncer existe, ele precisa, em primeiro lugar, ser reconhecido e ser tratado pra gente ir pra uma realidade diferente.
A trajetória de Pedro Aihara na política
Apesar das oportunidades acadêmicas promissoras, Aihara sentiu um chamado para a política, motivado pelo clamor das vítimas que ele atendeu em grandes desastres. Sua entrada no Congresso, embora desafiadora, reflete seu compromisso com um propósito maior e uma visão de uma política mais séria e comprometida. “Eu desde sempre sou servidor público, já estou há 15 anos em serviço público, justamente porque eu sempre entendi que eu poderia servir a população e nesse ponto eu sempre fui um idealista.” Essa busca por justiça o levou à política, onde ele busca usar sua voz e experiência para representar aqueles que mais precisam. Sua transição para a política não foi fácil, mas ele vê isso como um dever moral e cívico de atender ao chamado para a mudança.
Olha, Natália, a gente tem muitas oportunidades. Se você olhar agora, eu sou uma pessoa que tenho muito orgulho de ter trabalhado, feito lobby mesmo para o Brasil cobrar que a COP fosse possível de ser realizada aqui. E posso trazer um pouquinho do contexto do porquê dessa possibilidade. Acho que é bacana para o nosso ouvinte entender por que a COP vai ser realizada aqui. Acho que a gente tem essa Conferência do Clima que se realiza em 2025, a COP30 em Belém, é uma grande oportunidade. E eu destacaria esse ano o G20, eu acho que é uma trilha que nos coloca nesse direcionamento de sustentabilidade para entregarmos uma Conferência do Clima que possa ser sem precedentes, assim como a gente realizou a primeira na Eco-92.
Pedro Aihara – E aí as pessoas começaram a ventilar, essa possibilidade de entrar para a vida política. Eu, inicialmente, me fechei para essa possibilidade, porque, embora eu seja um apaixonado pela gestão pública, eu entendia, naquele momento, que o ambiente político era um ambiente muito contaminado, que eu não poderia, às vezes, vivenciar todos os meus valores, Só que em determinado momento, as próprias pessoas, as próprias vítimas que eu atendia, sobretudo em Brumadinho, elas começaram a demandar isso. Elas começaram a falar assim: “Pedro, se você é uma pessoa que vivenciou e vivencia isso com os próprios olhos, que sabe a importância de tudo isso, que vai conseguir levantar essa bandeira, porque não você ser esse emissário, você levantar essa voz?”
“Também pessoas da própria corporação falavam assim: olha, não tem ninguém hoje que trata de temas tão importantes para as nossas cidades, como resiliência a desastres, como defesa civil, como olhar mais técnico (…) eu acho que você tem os valores éticos, morais, você tem o preparo técnico e você tem a vocação. E aí eu comecei a me questionar muito em relação à questão do meu propósito e política. Eu escolhi estar no Corpo de Bombeiros, eu desde sempre sou servidor público, já estou há 15 anos em serviço público, justamente porque eu sempre entendi que eu poderia servir a população e nesse ponto eu sempre fui um idealista. E aí, eu comecei a me questionar muito, falando assim, olha, se esse é o meu propósito, por que não colocar esse propósito a serviço de algo maior? “
Pedro Aihara – Então, a jornada política, pra mim, essa transição de carreira. Ela definitivamente não foi uma decisão fácil. Eu tava aprovado por uma bolsa de doutorado no Japão, lá, custeado integralmente pelo governo japonês, no ano da eleição, em 2022. Estava com uma carreira consolidada no Corpo de Bombeiros, que eu tive que abrir mão, porque o nosso estatuto, diferente de outras carreiras públicas, ele não permite que a gente volte depois do mandato. Então, eu abri mão de toda a minha progressão de carreira, uma carreira pública bem consolidada.
Só que eu falei o seguinte:
Se a gente entende, que a gente pode, que a gente precisa mudar, de nada adianta ficar no sofá, ficar fazendo comentário no Instagram, em rede social, e não se dispor à mudança.
Então fizemos uma campanha, foi uma campanha absolutamente difícil, porque tá no estado como Minas Gerais, 853 municípios, um estado grande, as campanhas aqui, sobretudo para o deputado federal, são muito caras, são difíceis, e eu, sem experiência política, foi muito difícil, mas foi uma campanha muito limpa, muito honesta, e eu acho que essa verdade se conectou com as pessoas que também acreditam que é possível a gente fazer uma política mais séria, mais sensata, mais comprometida, e isso acabou dando certo.
Pedro Aihara – E agora a gente tá aí nesse mandato de deputado federal, é minha primeira experiência política, e tendo vitórias muito bacanas. Em vários rankings, a gente foi conceituado como o melhor deputado federal de Minas Gerais. Eu digo a gente porque isso é um trabalho em conjunto, é um trabalho de toda uma equipe, porque a gente tem tentado fugir um pouco dessa polarização, desses extremismos ideológicos, e realmente fazer aquela boa política, aquele caminho do meio, da articulação, do diálogo. E aí, basicamente, foi essa história que me levou pra cá. Não era algo que eu fazia previsão, não era algo que era um sonho, mas realmente foi um chamado que eu acho, até hoje, que é uma responsabilidade muito grande, um dever moral, um dever cívico, a gente atender esse chamado quando a gente o escuta.
Congresso Nacional: dores e delícias
No Congresso, Aihara enfrenta o desafio de manter sua sensatez e foco nas questões centrais, em meio a um ambiente polarizado e muitas vezes superficial. Seu trabalho por uma política mais comprometida com o bem-estar da população é um lembrete de que o caminho da sensatez pode não ser o mais glamouroso, mas tem muito valor.
Pedro Aihara – A minha principal luta no Congresso, para além das bandeiras da segurança pública, da educação, da proteção e defesa civil, ela tem sido uma luta, até uma luta muito pessoal e muito inglória, que é de você manter a sua sensatez, a sua ponderação. Isso é o mais difícil.
Pedro Aihara – Por quê? Porque a gente está num momento extremamente polarizado, e é muito vantajoso, do ponto de vista eleitoral, para o seu projeto de continuidade política, você ser “lacrador”, você ser mediático, você jogar para a torcida o tempo inteiro, você fazer não aquilo que é certo, mas aquilo que o pessoal quer ouvir.
Existem muitas questões centrais que precisam ser enfrentadas no nosso Brasil. ](…) E quando a gente se pega ali, se você liga na TV Câmara e na TV Senado, é o dia inteiro o pessoal falando de Lula e de Bolsonaro, falando sobre absurdos que não são questões centrais, e aí isso tira o foco do debate real, do debate necessário.
E aí quando você gosta do meu perfil, que é de um político de centro, um político que tenta dialogar com todos os lados e, principalmente, ter um diálogo mais técnico, isso acaba desnaturando no meio dessa cortina de fumaça, porque as pessoas hoje estão acostumadas muito a consumir política como entretenimento barato.
Como assim entretenimento barato?
Pedro Aihara – O pessoal quer ver é barraco, é briga, é confusão. O pessoal acha que está assistindo um reality show, um Big Brother Brasil. E ali, gente, há muita responsabilidade, porque tem muita gente que depende das legislações, das discussões, das articulações que estão sendo feitas ali dentro. Só que quando você vê, principalmente na forma como os eleitores escolhem seus representantes, a maior parte deles, embora desejem genuinamente uma política melhor, votam como se não quisessem isso, porque votam por questões é que não são associadas essa questão do diálogo, da técnica, da interação.
Pedro Aihara – Então, acho que o desafio maior hoje é a gente conseguir sair desses extremos, sair dessa lógica de polarização e realmente ter um debate que é um debate que coloca a população realmente no centro. Isso pode parecer clichê político, pode parecer repetição, mas assim, eu consigo enxergar verdade em muitas discussões que estão sendo feitas lá, independente de serem de esquerda, de direita, de lado A, de lado B, e eu tento sempre colocar o interesse da população em primeiro lugar.
Pedro Aihara – Só que, infelizmente, a gente vê em 90% dos casos é: “olha, para os meus amigos tudo, para os meus inimigos, meus adversários políticos nada”. E, obviamente, quem sai prejudicado, quem paga essa conta é a população. Então, acho que o principal desafio, nesse caso, a principal bandeira é a gente mostrar, conseguir mostrar para a população que o caminho da sensatez, ele pode não ter tantos holofotes, mas é ele que realmente resolve o problema.
“Ontem eu estava em um hospital aqui em Belo Horizonte, fazendo uma articulação para melhorar o tratamento a pessoas vítimas de queimadura. (…)E é uma coisa que você fica dias e dias, horas e horas em reunião, e que você não tá xingando os outros, você não tá acusando ninguém de nada, você tá ali fazendo o trabalho que você deve fazer, que é o trabalho de política pública. Só que isso fica fora do holofote, mas é alguma coisa que alguém precisa fazer. manter esse compromisso moral, porque a lacração, o extremismo, ele é muito sedutor do ponto de vista político, acho que esse é o maior desafio de qualquer pessoa que pretende o que já está nesse universo.”
A trajetória de Pedro Aihara, marcada pelos estudos e dedicação ao serviço público, é um exemplo inspirador de como é possível fazer a diferença, mesmo diante de árduos desafios. Seu testemunho revela o papel essencial que o serviço público desempenha na promoção da justiça social e na melhoria da qualidade de vida das pessoas e aponta para importantes demandas da população, como a de defesa civil, proteção de pessoas vulneráveis e a de um judiciário, executivo e legislativo que preze pelo interesse do povo e pela justiça para além da impunidade.
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Parabéns ao Deputado Pedro Aihara pelo belíssimo depoimento e carreira no serviço público e agora como Deputado Federal. Siga em frente que o Brasil precisa de políticos íntegros e bem preparado como o Senhor. Amei a sua entrevista para a Quem te Representa?!
Qdo se candidatar a Presidente da República terá meu voto.